domingo, 27 de dezembro de 2009

O Futuro do Livro

Recentemente ganhei o Kindle da Amazon! De tanto choramingar pelos cantos minha esposa querida me presenteou com essa maravilha nesse Natal. Em dezenove de outubro desse ano a Amazon anunciou o Kindle internacional, que pode ser comprado lá e funciona aqui no Brasil através de uma rede 3G em que o usuário não paga nada pela sua utilização. Segundo a Amazon, os custos já estão embutidos no preço do livro, mas existe uma taxa de US$ 1.50 por livro baixado. O download demora no máximo sessenta segundos, porém baixei um livro com 500 páginas em menos de vinte. Minhas observações:

Pontos positivos: Uma infinidade. Um dos que mais gosto é que agora posso ler meus livros técnicos na cama sem perder o ar por causa do peso de quase mil páginas apoiadas no peito. Isso vale para “O Senhor dos Anéis” edição única. Outro ponto mais que positivo: O preço do livro. Se você lê em inglês e comprou um livro de papel na Amazon sabe que paga-se o livro mais o frete, que costuma ser outro livro. Na prática se você compra um livro de dez dólares paga-se dezoito dólares de frete, mais caro que o próprio livro, e ainda tem que esperar pelo menos vinte e cinco dias. Isso quando chega, pois muitas vezes comprei e nunca chegou, embora o rastreamento diz ter entrado em terras tupiniquins, porém nunca vi a cor do produto. Entre confiar na eficácia da Amazon e em nosso correio / Receita Federal, fico com o primeiro. Outro ponto positivo é que alem de não pagar o frete, o livro para Kindle custa mais barato. Exemplo: Obras completas de Sir Arthur Conan Doyle por US$ 6.99. Sim, isso mesmo, tudo que Doyle escreveu por seven bucks. O livro Duna, de Frank Herbert custa US$ 9.99, e a versão em papel custa US$ 17.00. Uma beleza. Antes eu comprava dois a três livros e já me custava cem reais, agora com cem reais compro no mínimo oito livros normais (sem contar “obras completas”, que aí é covardia). Ainda no quesito números, existem cerca de 100 mil livros por menos de US$ 6.00. A Amazon disponibiliza um catálogo de 390.000 livros para Kindle.

O Kindle vem com 2Gb de memória, e isso dá para armazenar cerca de 1.500 livros. Você pode fazer backup no seu PC para liberar mais espaço, caso necessário. Você pode ler arquivos PDF, mas aí já acredito que não faz muito sentido, porque existe toda uma tecnologia de narrativa e bookmarks no formato da Amazon, mas de qualquer forma existe a opção do PDF.

O Kindle também narra o livro para você, caso esteja se deslocando e sinta enjôo, como eu, de ler em movimento. Você pode escolher voz de homem ou mulher e a velocidade de leitura, se normal, de vagar ou rápido. As páginas são viradas automaticamente quando a narrativa chega ao final da página atual, e quando você desliga seu Kindle ele marca a última página lida (por você ou por ele) automaticamente. É possível fazer bookmarks adicionais em qualquer página que você queira, bem como anotações, pois ele vem com um teclado “QWERTY”. Você pode sincronizar a leitura com seu PC e com seu iPhone, assim quando você ligar seu Kindle ele estará na página em que você acabou de ler, seja qual for o dispositivo. Ah, tem acesso à internet por meio do 3G, de graça, sem Wi-Fi. O browser é um navegador padrão sem Java ou Flash, mas para blog ou Wikipédia fica uma beleza. A tela do Kindle não é cansativa. Você pode ler por horas a fio sem se incomodar, inclusive ler na claridade, que até melhora a leitura. Não entendeu uma palavra? Vá com o cursor até ela e o Kindle te mostra o significado, no dicionário Oxford que já vem embutido.

Caramba, estou parecendo vendedor da Amazon, mas é que realmente a coisa é boa. Para quem mora em apartamento e se vê ameaçado com a falta de espaço e a guerra dos ácaros nos seus livros mais velhos, o Kindle é um presente de Deus. Você também pode mudar o tamanho da fonte, em seis tamanhos diferentes, alem de rotacionar a tela em retrato ou paisagem. A bateria dura cerca de duas semanas (faz uma semana e meia que carreguei e ainda tem cerca de 70%) e leio todos os dias, porém só a noite.

Pontos Negativos: Com exceção do Jornal O Globo, o conteúdo é em inglês. Não temos ainda livros em português, mas acredito que isso é uma questão de pouco tempo. O preço do Kindle também é caro para trazer para o Brasil. O aparelho custa US$ 249.00 porém, como nosso pais é essa beleza que todos conhecem, existe imposto alto (sim, é livro, mas vai explicar). O imposto é de US$ 331.00, mais caro que o próprio aparelho, chegando no valor final aqui por mais de mil reais, sem contar o frete. É muito caro. No meu caso uma amiga minha que mora em Porto Rico me trouxe, dentro da cota dela de quinhentos dólares, e minha esposa pagou somente o valor do aparelho mais trinta dólares de frete. Eu li um artigo que um advogado brasileiro conseguiu entrar na justiça e ganhou o direito de trazer o Kindle sem imposto, alegando que é livro (e é mesmo). Li alguns blogs sobre “grandes desvantagens” do Kindle mas não concordei com o design ruim (para mim é perfeito) e com o preço, já que a culpa é do imposto dessa beleza de pais (de novo) e não da Amazon.

Eu acredito fortemente que o futuro do livro é esse e que não vai demorar para termos a febre do Kindle (assim como a febre o iPhone). A Barnes & Noble já está correndo atrás do prejuízo e está lançando seu leitor digital também, o Nook, mas esse não tem aqui por enquanto. Só funciona nos Estados Unidos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lugar Nenhum

Estou finalmente lendo “Lugar Nenhum” de Neil Gaiman. Comprei esse livro há muito tempo e agora resolvi lê-lo. Depois que parei de jogar World of Warcraft conforme disse no blog anterior, a palavra “vida” passou a ter algum significado para mim. Estou dando vazão à pilha de livros que comprei e ainda não li (que vergonha).

Lugar Nenhum trata de uma história de fantasia, no submundo de Londres, cujas coisas ficam bem fora da realidade. Richard Mayhew, personagem principal, vê sua vida como conhece desaparecer após ajudar uma garotinha chamada Door, que vive na “Londres de baixo”, ou no submundo da cidade, no subterrâneo da cidade. Interessante é comparar o estilo de narrativa com outro autor que gosto bastante, também de fantasia, chamado Terry Pratchett. Esse estilo mistura um humor inglês que para mim é bem engraçado, mas sei que muitos detestam. Vou colocar um trecho do livro aqui para vocês entenderem do que estou falando:

“Old Bailey não era uma daquelas pessoas nascidas para contar piadas. Apesar dessa deficiência, ele tentava. Adorava contar histórias compridas e entediantes, que sempre terminavam com um trocadilho horrível, embora com freqüência ele não conseguisse se lembrar do trocadilho quando chegava a hora. Seu único público consistia em alguns pássaros presos, que (principalmente as gralhas) viam aquelas piadas como parábolas profundas e filosóficas para explicar a condição humana. De vez em quando, os pássaros pediam para ele contar mais uma de suas divertidas histórias.

- Está bem, está bem, está bem... – Disse Old Bailey. – Se vocês já ouviram essa é só falar. Um homem entrou num bar. Não, não era um homem. A piada é de outro jeito. Desculpem. Era um cavalo. Um cavalo... não... um cubo! Três cubos. Isso. Três cubos entraram num bar.


Uma enorme gralha velha vez uma pergunta. Old Bailey esfregou o queixo e encolheu os ombros.


- Ah, mas eles podiam. É só uma piada. Os cubos sabem andar na piada. Então um cubo pede uma bebida para ele e para cada um de seus amigos. E o barman diz: ‘Só servimos militares aqui’. Então ele vai até os outros cubos e diz: ‘Eles só servem militares aqui’. E é uma piada, então o cubo do meio também pede e não ganha, e aí o último cubo pega um pincel e faz uma bolinha de um lado, duas do outro, três do outro, quatro do outro, cinco do outro e seis do outro... E também pede uma bebida.


A gralha grasnou de novo, com ar sábio.

- É, isso aí, três bebidas. E aí o barman diz: ‘Por um acaso você é militar?’. Daí ele diz, o cubo diz: ‘Sou dado’. Soldado, entendeu? Sou dado. Um trocadilho. Muito engraçado, muito engraçado.”

Bem, eu achei engraçado. Recomendo a leitura. Interessante que “Lugar Nenhum” é também uma música da finada banda “Tantra”, que surgiu e morreu e aparentemente só eu gostei. Inclusive fui num “show” deles, com uma platéia de quase 15 pessoas. Bem , é isso.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Rehab

Sim, eu estou conseguindo. Hoje já faz onze meses, vinte e um dias, quatro horas e trinta e dois... três minutos que não jogo mais World of Warcraft (clap, clap, clap...). Não faço ideia de como consegui sair disso, mas aviso aos menos informados: Não joguem World of Warcraft (ou WoW para os íntimos). Esse jogo é um RPG (Role-Playing Game, ou jogo de interpretação de papéis) online, para multidões, que em inglês é conhecido como MMORPG (Massively Multiplayer Online Role-Playing Game). É mais viciante que cocaína, e tá aqui a página do jornal inglês que não me deixa mentir. Levei muito tempo para conseguir finalmente bloquear meu cartão de crédito semana passada e assim finalizar dois anos do mais puro tempo jogado fora. Não estou dizendo que o jogo é ruim, claro que não, o problema é exatamente o inverso. É tão bom que você passa o resto de sua vida nisso. Deixei de ir em festas, adiei compromissos, faltei em ocasiões especiais só pra poder continuar jogando. O jogo é viciante por alguns fatores, como não ter um fim, ser altamente meritório, ser extremamente difícil de aprender e quando se aprende adquire-se um status importante dentro do jogo, ter status social online, ter uma vida online, ninguém entende o motivo de você ficar horas jogando-o, e por aí vai. Há vários casos de bizarrices sobre World of Warcraft, inclusive uma chinesa que morreu de derrame depois de passar três dias seguidos jogando Wow e seus amigos fizeram um funeral online no próprio jogo para ela. É uma droga altamente viciante. Hoje me divirto com jogos mais simples, que não precise pensar, que obrigatoriamente tenha um final (um final atingível) e não seja online. Estou conseguindo fazer outras atividades sociais e baixar meu estoque de livros e gibis que comprei e não tive tempo de lê-los. Ufa, de volta à vida novamente.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Fim... de Ano

Ontem cheguei para trabalhar e percebi que já colocaram os enfeites de Natal. Já começou a me dar um enjoo. Não que eu não goste do Natal, porque até gosto, mas só de pensar nos problemas do final de ano me dá uma certa tristeza. Imaginei aquele Shopping com 500 mil pessoas se digladiando por uma Barbie já capenga que sobrou na prateleira. É... você também esquece alguns presentes, né? Aquele povo gritando com os filhos pequenos, com sua orelha normalmente no meio do caminho. E para estacionar então? Tem que chegar onze da manhã e lá pelas quatro da tarde arruma uma vaga. Um terror. Fora esse calor nojento de fim de ano. Sei que tem gente que gosta do calor. Eu também gosto, mas na praia, de bermuda e de preferência não no fim de ano. E só. De resto eu detesto. Aí chega a noite de Natal. Que beleza. Sua família aparece lá pelas quatro da manhã porque passaram na casa de genros, noras, periquitos, e afins. Seu estômago colado nas costas porque “tem que esperar a fulana”. Aí come arroz frio com passas (que idéia idiota é essa de colocar uva passa na porcaria do arroz, meu Deus?), aquele peru duro. e mais uns trecos com damasco (outra coisa alienígena para mim). Tem que mandar uma coca-cola já quente (porque estava na mesa desde a meia-noite) pra mandar pra baixo aquele treco seco. Chegam os presentes. Normalmente amigo secreto é uma beleza. Você gasta seus sessenta contos e ganha um cinzeiro, sendo que você não fuma. Eu ainda tive muita sorte em amigos secretos, mas já vi gente ganhar CD gravado de músicas do Pepeu Gomes.

Mas sabe mesmo o que é pior? É o Ano Novo. Putz, aí pode colocar problemas. Já começa nos horários. Se você vai com alguém pode ter certeza que o camarada escolhe “o melhor horário”, que normalmente é quando você ou estaria trabalhando ou estaria dormindo. E o pior é que pega “só” seis horas de trânsito pra praia (que normalmente leva uma) e acha bom. E aquele cara do Chevetão na estrada? Opa, tem sempre um. Aquele camarada que tá até com a carteira de vacinação do cachorro vencida e resolve pegar aquele Chevetão 89, marrom (ou cor indefinida), colocar quinze dentro e (veja bem) na faixa da esquerda quebrar na descida da serra. Será que existe maldito mais maldito?

Pedágio. Que horror! Você olha para o lado e vê aquela gorda de chapéu suando mais que toalhinha de cuscuz, olhando para você no carro do lado. Logo nota um bando de bons brasileiros querendo furar a fila do pedágio, como se fosse possível chegar mais cedo. Aí paga aquela facada de pedágio, que daria pra fazer muita coisa melhor do que aquela porcaria de estrada.

Bem, depois de ouvir a sogra reclamando por incansáveis seis horas você chega na praia. Aquele calor que derrete até cerâmica. Você fica imaginando que daria pra fazer facilmente um ovo pochê dentro da sua cueca. Descarrega cinquenta malas (sim, você explicou pra sua mulher que são só três dias). Espera uns quarenta minutos o elevador. E aí sim começa tomando um banho gelado, que não resolve nada dois minutos depois de fechar o chuveiro. Depois disso é aquela coisa: Praia cheia de dia e muvuca de noite. Gente correndo para a água, você querendo matar pombas e catadores de latinha, ver donos de cachorros muito felizes com seus animais fazendo cocô na areia, ficar tentando achar espaço pra sua cadeira, pagar dez paus no coco quente, tudo como sempre. Chega a noite da virada. Você sai do seu apartamento pra ver os fogos, com a camiseta branca nova, com semente de lentilha na carteira, a tua tia te obrigando no caminho a pular sete ondas, aquela merda de sempre. Começa a contagem (cada um contando no seu tempo particular), os fogos começam a pipocar, povo gritando, beijos estalados na orelha, um mix de perfumes que vão ficar no seu nariz por uma semana, etc. Como sempre dá pra piorar, é claro. Vem aquele bando de pobres e te acerta Cidra Cereser vermelha nas costas toda. Putz, a camiseta branca... Nem pra gostar de Cidra transparente. Tem que ser a vermelha mesmo. Volta pro apartamento, jurando que aquele ano é o último. As juras intensificam no trânsito da volta. Ah, fim de ano... Não vejo a hora...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

2012

Quando os espanhóis no século 16 conquistaram o reino Maia, os Maias não usavam um calendário. As pessoas contavam o tempo com nada menos que quatro calendários ao mesmo tempo. O mais velho desses calendários fazia a conta de 260 dias, chamados de “Tzolkin”, consistindo em 20 dias com nomes próprios, repetindo treze vezes. Os Maias também conheciam o “Haab”, um calendário com 365 dias, espalhados em 18 meses de 20 dias cada, com um bônus no final de cada 5 dias “acidentais” pra fechar a conta. O terceiro calendário foi o de “conta rápida”, que contava dias, meses, anos e o “Katun”, que eram períodos de quase vinte anos. E finalmente o calendário de “conta longa”. Eles contavam esse “Katun”: 20 Katuns formavam um “Baktun”, e repetia o Baktun a cada 13 vezes.

Com um calendário desses, pra piorar, as datas eram expressadas no estilo “10 .4.0.0.0 -12 Ahau – 3 Uo”, ou “O décimo Baktun mais o quatro Katun depois da criação pela conta longa, próximo aos últimos dias de Ahau de acordo com o calendário Tzolkin, e o terceiro dia do mês de acordo com o calendário Uo Haab”. Coisa fácil. Imagino que ninguém perguntava as horas na rua, porque isso implicaria em perder, digamos, uns dois dias, o que não faria mais sentido a pergunta inicial.

Tá certo, mas onde está a relação dessa confusão de datação Maia e o calendário Cristão? Muito cientistas estudam isso até hoje, baseado em algumas tentativas de tradução dos espanhóis da época, mas ainda existem muitas discussões a respeito da precisão dessa conversão de Maia para GMT. Bem, depois de alguns estudos e comum acordo com a comunidade de malucos, três cientistas (Goodman, Martinez e Thompson) chegaram ao dia 21 de Dezembro de 2012 como o fim do calendário Maia. Sim, o mesmo 2012 do fim dos tempos predito por muitos e o mais novo blockbuster de Hollywood. Esses cientistas acreditam que completaria um ciclo inteiro desde a criação do calendário, em 3114 antes de cristo, chegando até a data de 13.0.0.0.0 do calendário Maia.

Depois de algum tempo disso postulado e consumado, surge um camarada chamado Andreas Fuls da Universidade Técnica de Berlin que refutou esses cálculos há três no seu trabalho de doutorado. Fuls acredita que o fim do calendário em 2012 estaria errado, e fazendo as contas baseado em dados astronômicos, como a posição de Vênus, relacionado com o que os Maias acreditavam, chegou ele à data de 21, 22 ou 23 de dezembro de 2220. O ponto central que Fuls discute é que os Maias não acreditavam que o fim do mundo iria ocorrer nessa data, mas sim o fim de sua folhinha pregada atrás da porta, cuja datação poderia voltar facilmente a ser 1.0.0.0.1.

Essa história ainda vai longe, pois outro cara chamado David Kelly, arqueologista, e um astrofísico chamado Eugene Milone disseram que os Maias talvez tivessem uma contagem ainda mais longa, chamada “Pictuns”, que seriam períodos de 20 “Baktuns”, ou 20 x 144.000 dias, que dariam 7890 anos. Pelo jeito Hollywood ainda vai poder filmar mais alguns filmes desse gênero se o precedentes não derem certo. Logo me vem à mente algumas perguntas: Porque alguém se importa com isso? Porque eu estou escrevendo sobre isso? Porque você ainda está lendo isso? Bem, melhor que ver a novela...


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A fé da Física

Que o fim do mundo não é assunto novo todo mundo sabe. A cada ano novas previsões arrasadoras são feitas por tudo quanto é tipo de gente, desde cientistas até mãe de santo. Fora os filmes de Hollywood que se superam em tentar encontrar alguma coerência de datas para acabar com o planeta em mais um Blockbuster. O filme da vez é sobre o calendário Maia que prediz o fim do mundo (deles) em 2012. Na verdade é que o cara que fazia o calendário não estava com saco pra escrever uma porrada de anos pra frente e acabou cansando no 2012, mas deixa essa história pra outro post. Mas o assunto aqui não é cinema.

Com o Grande Colisor de Partículas de Hádrons (LHC - Large Hadron Collider ) do CERN a disputa está grande para saber quem prediz melhor o fim do mundo. De buracos negros até anti-matéria, praticamente todos os experimentos ditam o fim da humanidade como conhecemos. Ontem li uma notícia que achei muito interessante. Dois físicos estão com uma teoria muito boa. Holger Bech Nielsen do Instituto Niels Bohr em Copenhagen e Masao Ninomiya do Instituto de Físca Teórica Yukawa em Tóquio colocaram suas idéias em dois documentos chamados “Teste de Efeitos do Futuro no Grade Colisor de Hádrons: uma Proposta”( Test of Effect From Future in Large Hadron Collider: a Proposal) e “Procurando por Influência do Futuro do LHC”( Search for Future Influence From LHC). Nesse documento sério, os doutores acreditam que o motivo do LHC não estar funcionando ainda, após mais de um ano de tentativas frustradas, não é devido só à má sorte. Segundo eles, um possível motivo seria uma influência do nosso futuro que estaria impedindo de alguma forma o funcionamento do LHC, evitando assim o fim da humanidade.

Seria como um neto voltando no tempo para salvar seu avô de ser atropelado por um ônibus. Nesse caso, alguém estaria influenciando o funcionamento do LHC impedindo que a humanidade fosse atropelada por esse ônibus. Os doutores propuseram uma série de testes para tentar provar algo mais que má sorte. Seria algo do tipo embaralhar um baralho onde uma carta de espadas estaria numa pilha entre cem milhões de cartas de copas, e se essa carta de espadas fosse sorteada, o LHC não iria rodar mesmo, ou não iria rodar com energia suficiente para resultados significativos, como por exemplo encontrar o Bóson de Higgs.

Essa teoria foi discutida em muitos blogs, alguns obviamente ridicularizam, mas depois do experimento do gato de Schrodinger, que estaria vivo e morto ao mesmo tempo, onde os físicos provaram que o elétron pode estar realmente em dois lugares ao mesmo tempo, não duvido de mais nada. A física está tomando caminhos complexos até para os próprios físicos entenderem. Viagens no tempo, Universos Paralelos, Multiversos, Teoria do Tudo, e mais um monte de teorias difíceis de engolir não são mais novidade nesse meio, e quem quiser entender a profundidade destas tem que ter uma mente muito aberta.

Será que Marty McFly e o Dr. Emmett Brown finalmente conseguiram inventar sua máquina? Bem, segundo a física moderna, em algum universo paralelo eles conseguiram. Acredite se quiser...

domingo, 18 de outubro de 2009

Um pouco mais brasileiro

"Um povo heróico gritou, e esse grito ecoou e foi ouvido, lá das magens tranquilas do rio Ipiranga. Naquele momento o sol, com seus raios brilhantes, mostrou-nos a liberdade. Se conseguimos conquistar com nosso braço forte a garantia de igualdade, junto à Liberdade desafiamos nosso peito contra a própria morte. Saúdo a minha pátria adorada a qual idolatro. Um sonho intenso, um raio vívido de amor e esperança desce à tua terra, Brasil, se a imagem do Cruzeiro brilha intensamente em teu céu risonho e claro. Gigante és pela prórpria natureza, és belo, és forte, corajoso e gigante. E teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada. Entre outras mil és tu, Brasil, ó pátria amada. Tu és mãe generosa dos filhos dessa terra. Pátria amada, Brasil. Ó Brasil, enfeite da América, brilhas iluminado ao sol do Novo Mundo, repousando num local maravilhoso, ao som do mar e sob a luz do céu profundo. Teus risonhos e lindos campos tem mais flores do que a terra mais enfeitada. Nossos bosques tem mais vida. Nossa vida dentro de ti tem mais amores. Saúdo a minha pátria adorada a qual idolatro. Brasil, que a bandeira que exibes estrelado seja símbolo de amor eterno. E que diga o verde e amarelo dessa bandeira "Paz no futuro e glória no passado". Tu verás que um filho teu não foge da luta, nem teme, aquele que te adora, a morte, se surgir da justiça a força maior. Terra adorada, entre outras mil tu és, Brasil, patria amada. Tu és mãe generosa dos filhos dessa terra. Pátria amada, Brasil."

Pena que poucos entendem o significado de ser brasileiro. Acreditam que é levar vantagem em tudo, em ter o jeitinho, desculpa para fazer o errado. Comprando produto pirata, furando fila, mascarando o imposto de renda. Sem educação e desinformado, o povo caminha para sua própria ruína, votando em dirigentes incompetentes e exploradores. Só lembram do país em copa do mundo, mas jogam lixo nas ruas no dia-a-dia. Povo ignorante, não sabe que não está levando vantagem, mas ficando para trás no desenvolvimento, e não percebem. Exportando matéria-prima eternamente à produzir material enriquecido com tecnologia, valorado, propiciando o desenvolvimento interno, agregando tecnologia. Inclusão digital é uma grande farça. Só aumenta a burrice, que agora é online, podendo-se ver erros ridículos de português em tudo quanto é local, coisa que se tivessem cursado a segunda série do primário não cometeriam. E ainda dão desculpa que é internetês, e aí vale tudo. Mais um jeitinho brasileiro. O câncer dessa terra.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Evangélico$

Estava lendo um ótimo livro de comédia de Terry Pratchett e Neil Gaiman chamado "Good Omens", algo como Bom Presságio, numa tradução livre. A história é sobre o fim dos tempos, previsto por uma bruxa fictícia do século XVII chamada Agnes Nutter. No livro, Pratchett e Gaiman relatam o fim dos tempos, que chega "neste sábado" (data do livro), e fazem toda aquela paródia de Céu e Inferno na visão deles. O que me chamou a atenção, embora fosse trágico e engraçado, foi que em um dos capítulos os autores relatam a vida de um pastor, que tinha a finalidade pura e simples de ganhar dinheiro, e realmente acreditava naquilo que pregava, porém o “core” da pregação era a venda de CD’s, DVD’s, Bíblia, Livros e tudo mais. As músicas eram tão ridículas que eram cópias de velhas músicas country, e pra piorar as letras eram mais ridículas ainda. Uma das canções de sucesso desse pastor fictício era “Jesus is telephone repairman on the switchboard of my life”, algo como "Jesus é o reparador de telefone da central telefônica da minha vida". Comecei a pensar na igreja evangélica brasileira e vi que não existe diferença nenhuma da caracterização de Pratchett e Gaiman. Cada vez que escuto os sucessos evangélicos vejo que são músicas péssimas, muitas vezes copiadas de outras músicas que existem, e as letras além de não rimarem ainda são extremamente iguais umas das outras. Não existe imaginação para os grupos evangélicos? E o pior é que lançam oito, nove, até dez CD’s com basicamente as mesmas músicas, mudando um pouco a letra, mas a maioria são versículos inteiros retirados do livro dos Salmos. Eu realmente não gosto de música evangélica, nem acredito que a venda desordenada de CD só porque a letra fala de Jesus seja muito Cristão. Acredito que isso visa o lucro em primeiro lugar e para mim está muito errado tanto quem faz quanto quem compra. Minha opinião é deve existir música cristã, mas também deve existir a qualidade da música em si, para Deus, como louvor, com letras que te façam refletir algo diferente do que se você ler a Bíblia, e o lucro inteiro seja revertido para Deus, pois é o louvor a Ele que acabou vendendo.

No livro Good Omens ainda diz que o pastor, apesar de letras que não rimam e a música composta por uma pessoa que não é músico, conseguiu vender quatro milhões de cópias de seu CD. Existe alguma diferença com os grupos evangélicos daqui?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Visto

Pronto, fim do mistério. Após minha curiosidade estar bem elevada e a expectativa para tirar o visto americano bem alta, hoje o caso foi resolvido. Vou explicar aqui os passos para que se alguém um dia queira fazer essa empreitada possa saber o que de fato acontece. Antes de resolver tirar o visto americano, caí na besteira de perguntar para alguns amigos meus como era o processo. Se você fizer isso é bem provável que desista de viajar para os Estados Unidos e compre um pacote de viagem para Americana mesmo, aqui pertinho. Todos meus amigos ou me desanimaram, com o papo tipo “Ah, é muito complicado, pediram até o atestado de compra da dentadura do meu avô que tinha morrido na guerra...”, ou então cercaram o caso de mistério, dizendo “Não sei como é direto. Foi fulano que fez pra mim. Desculpe, não sei.” Ou então “Ah tem que preencher uns trecos lá.”. Eu até estava imaginando que depois que você entrasse pela porta do consulado, uma galera faria uma iniciação satânica com você, estilo maçonaria, com espadas, negação de cristo, deus baal, etc. Estava um pouco apreensivo, pela quantidade de mistérios que as pessoas teimavam em não me falar. Ok, vamos ao que de fato acontece:

Primeiro passo: O agendamento. Entre no site www.visto-eua.com.br e faça seu cadastro. Você vai ter que pagar R$ 38,00 e poder cadastrar até cinco membros de sua família, ou seja, esposa e filhos. Não dá pra cadastrar a namorada/noiva/ficante, etc. Tenha em mãos seu passaporte, todos os documentos, seu currículo, carteirinha de vacinação do cachorro, peruca da sua tia avó, fotografia da sua professora do primeiro ano, etc. É muita coisa pra ler e preencher no site, portanto tenha tempo e paciência. Você vai preencher um monte de informações irrelevantes, do tipo: “Você pretende matar o presidente dos Estados Unidos com uma bomba? Sim / Não” “E com uma facada? Sim / Não”. “Ataque nuclear, talvez? Sim / Não”. Não consegui acreditar nas perguntas que li, mas beleza. Ignore, responda tudo Não e após concluído o parto, imprima os formulários 156 e 157. Se você vai para estudar nos Estados Unidos, terá que preencher o formulário 158 também, caso contrário não precisa. Basta uma via de cada. O formulário 156 já é impresso com as informações que você colocou, já o 157 você tem que preencher na mão e prepare-se para lembrar todos os cursos que você fez após o colegial. Eles gostam de ver se você estudou. Curiosidade é uma merda mesmo. Aí você agenda uma data, que deve ser de um mês pra frente, dependendo de quando você está agendando. Bem, tocando o barco pra frente:

Segundo passo: O Citi. Vá até uma agência do Citibank com a taxa EM DINHEIRO. No atual momento essa taxa é de US$ 131.00 por pessoa, que na conta do Citi dá R$ 262,00 (pois é, amigo. Convertem para R$ 2,00 mesmo que o dólar esteja menor, inclusive o dólar pararelo custar menos que isso. Rola um spread aí). Munido dos R$ 262,00 em dinheiro, entre na agência do Citi e PEGUE A MALDITA SENHA DO CAIXA, pois de nada adianta ficar igual a um dois de paus plantado na fila do caixa sem a merda da senha. Inclusive os guardas e funcionários ficam rindo dos trouxas que não pegam a senha e vêem depois de meia hora esperando que todo mundo passa na frente porque, obviamente, pegaram a senha. Bem, não vou dizer que eu era um desses trouxas, mas você já deve ter adivinhado. Pague a taxa e guarde a sete chaves o comprovante, que é uma tripinha de papel com um serrilhado para destacar as duas vias, uma vermelha e uma azul. Você vai usar isso dentro do consulado.

Terceiro passo: Separação. Separe toda a sua vida e tire cópias. Lembra daquele papelzinho de correio elegante que a menininha lindinha da terceira série B te mandou, dizendo que você era uma gracinha? Pois é, separe isso, tire uma xerox e coloque numa pasta bonita com a etiqueta “Levar ao Consulado”. Tire cópia de tudo. Documento do carro, da casa, da mobilete, identidade, cpf, rg, título de eleitor, conta da padaria, etc. Tudo que for relevante para que sua permanência no Brasil esteja ancorada. Inclusive tire cópia do contrato social de sua empresa se você for empresário ou PJ, e para todas as pessoas é importante a cópia da movimentação bancária. Se você não tiver uma renda comprovada ou então estar viajando com uma pessoa que está te pagando, você pode ter problemas. Não se esqueça da foto 5x5 ou 5x7 com data (não importa se a menina da Fotótica dizer que não precisa de data para o visto, porque precisa sim! Tire a foto com data).

Quarto passo: O grande dia. Chegou o dia de ir lá no consulado. Em São Paulo fica na rua atrás do Shopping Morumbi. Marquei para as oito horas da manhã. Cheguei sete e meia. Deixei o carro na P... madre que o pariu e tinha uma fila maior que a do INPS. Fora o frio de 10ºC e eu macho sem muita blusa. A garoa na orelha, povo aglomerado, uma delícia. Assim como no poupa tempo, tem uma galera vendendo os serviços de foto, de formulários, etc. Putz, tinha uma mulher vendendo guarda-chuva que ficava gritando "UMBRELLA!". Até pra colar a foto no formulário é cobrado R$ 2,00 (preço da cola de bastão com um super ágio). Não se preocupe com a foto, pois lá dentro eles grampeam no formulário. Depois de conseguir entrar no consulado, quer dizer, na fila de dentro, você é conduzido como um gado para o abate. Funcionários berrando várias instruções, povo desinformado que esqueceu tudo, pessoal de agência de viagens passando na sua frente, etc. Vá com paciência, amigo. A coisa é chata mesmo. Uma primeira triagem é feita e a menina vai te falar para preencher o restante dos dados que você ficou com medo de colocar ou não sabia o que por. Vai grapear sua foto e também aquela taxa do Citi e beleza.

Quinto passo: Lá dentro. Entrando no consulado, depois da triagem básica, você segue a faixa amarela (a única que tem) e vai se deparar com outra surpresa. Praticamente o mundo todo está tirando visto naquele dia. Muita gente mesmo. Pegue a senha com a menina do balcão e deixe com ela uma das partes da taxa paga (a parte vermelha). Fique de olho na TV de LCD que irá avisar quando sua senha estiver perto de ser chamada. Você passa por três partes: Deixa seu passaporte e documentos para serem analisados. Depois deixa suas digitais num outro guichê, novamente esperando sua vez no painel e retira o passaporte. E a última que é a entrevista.

Sexto passo: A entrevista. Fiquei observando a galera fazendo entrevista. É no balcão, de pé, no meio de todo mundo. Podem te perguntar quanto você ganha, motivo da viagem, etc. Para mim só perguntaram o motivo da viagem, e por que destino Nova York? Não me pediram nenhum documento. Fiquei até tarde da noite tirando cópia da coisa toda e voltei com tudo do jeito que levei. Bem, melhor assim. Visto aprovado.

Sétimo passo: Correio. Na saída do consulado terá um guichê para você pagar a taxa do correio, pois seu passaporte vai ficar com eles e depois será enviado por correio. A taxa custa R$ 19,00 e terá que ser paga em dinheiro. Ah, se você está casado mas sua esposa está com o passaporte usando o nome de solteira, você vai ter que morrer com duas taxas e dois envios.

Parece que agora estão liberando geral. O visto está fácil. Não vi nenhuma recusa, nem choro, nem confusão. Tudo tranquilo. Como a economia americana está se recuperando, é vantajoso para eles terem mais turistas, que deixam seus dólares no comércio insano do maior exemplo de capitalismo do mundo. Ufa, é isso.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fora de série

O Livro "Fora de Série" (Outliers) de Malcolm Gladwell trata de como certas pessoas chegam ao sucesso e outras não, e passa por uma série de explicações de alguns estudos e observações tanto do autor quanto de cientistas, que tentam explicar a fórmula mágica do sucesso. Um assunto um pouco batido, pois podemos observar as livrarias e bancas de jornal abarrotadas com temas de auto-ajuda, porém Outliers surpreende pela clareza com que o assunto é tratado. Não se trata de ensinar como fazer sucesso, nem como ficar rico, mas conta sobre o processo e os motivos que levaram certas pessoas a serem referências de êxito em suas atividades.

Parece que existe um padrão identificável em todos os indivíduos considerados pela sociedade um caso bem-sucedido, e o grande segredo envolvido em todos esses casos é uma prática da atividade em questão por dez mil horas antes do sucesso, ou vinte horas por semana durante 10 anos (cerca de 3h por dia), no que o indivíduo se propôs a fazer. Um exemplo tratado é Mozart, que só compôs algo genial quando tinha 21 anos. “Àquela altura, Mozart vinha compondo concertos havia 10 anos”, diz Gladwell. Ele também cita exemplos como Bill Gates, e o não tão popular, mas igualmente famoso Bill Joy, da Sun Microsystems. Passa também pelos Beatles, e jogadores famosos de hóquei e basquete. O padrão das dez mil horas de prática se repete em todos eles, antes do sucesso. Esse estudo das dez mil horas foi feito por um neurologista chamado Daniel Levitin que conseguiu encontrar esse padrão de dez mil horas de preparação “... entre compositores, jogadores de basquete, escritores de ficção, esquiadores, pianistas, jogadores de xadrez, mestres do crime, seja o que for, esse número sempre ressurge.”

Além da prática, a sorte parece ser a regra para as pessoas de sucesso. Estar na hora certa e no lugar certo, agarrar a oportunidade que cai no colo parece ser bem comum entre os bilionários.

Numa tentativa de explicar se a inteligência tem algo a ver com os casos propostos, Gladwell relata que a inteligência tem um limite quando o QI atinge certo nível, não importando se este é 150 ou 200. Não seria possível medir quem é mais gênio, pois com mais de 140 a pessoa é suficientemente inteligente para ser considerada um. Não só o QI importa, mas existe a inteligência prática, como nomeia o autor a inteligência pragmática, atuante no saber dizer e para quem, saber quando dizê-lo para obter o máximo de efeito.

Um livro muito interessante e uma das frases que me fez refletir bastante é: “Tudo que aprendemos nesse livro nos diz que o sucesso segue uma rota previsível. Os bem-sucedidos não são os mais brilhantes. Se fossem, Chris Langan [o homem mais inteligente dos Estados Unidos] estaria no mesmo nível de Eistein. Também vimos que o êxito não se resume à soma das decisões e dos esforços individuais. Trata-se de uma dádiva. Os vitoriosos são aqueles que receberam oportunidades e que tiveram força e presença de espírito para agarrá-las”.
Recomendo a leitura. “A lição é bem simples. No entanto é impressionante a freqüência com que a ignoramos.”

sábado, 1 de agosto de 2009

Deaf Song

Existem coisas na internet que são realmente engraçadas. Uma delas é esse vídeo do ator inglês David Armand interpretando o Austríaco Johann Lippowitz, um “artista de dança interpretativa”. O que ele faz no palco é uma mímica da música que está tocando, que ele chama de karaokê para surdo. Se você entende bem inglês vale a pena conferir, pois cada palavra da letra da música é transformada em mímica.
Este vídeo foi filmado em 2006 em um show na Inglaterra chamado “The Secret Policeman’s Ball” pela Anistia Internacional. Vale a pena conferir.



Outros vídeos podem ser vistos aqui e aqui.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

H1N1

Mais comentado que a morte do Michael Jackson é a gripe H1N1. Como a grande maioria das notícias relatadas pela mídia, a “nova” gripe não tem muita coisa de especial em relação à gripe comum. O vírus H1N1 (chamado assim por conta de duas proteínas em sua superfície, Hemaglutinina e Neuraminidase) , tem a mesma composição da gripe espanhola, que matou de 50 a 100 milhões de pessoas de 1918 a 1919. Naquela época, a higiene não era uma coisa lá muito difundida, e assim como a peste negra, se tivessem tomado os devidos cuidados higiênicos muitos males poderiam ter sido evitados, como o simples ato de lavar as mãos, por exemplo. Aliás nem quero entrar muito nesse detalhe porque todas as vezes que entro no banheiro da empresa tenho a sensação que estou na Idade Média. Me pergunto: Como pessoas formadas, bem pagas, usam um banheiro dessa forma? Sem contar que a grande maioria sequer lava as mãos após o uso, sendo que o correto seria lavar as mão antes e depois de usar o banheiro, mas aí é demais.

Voltando ao assunto, a taxa de morte da gripe suína é de 0,5%, a mesma que a gripe normal. Não é para ficar desesperado e muito menos sentença de morte para quem pegou, como estão notociando por aí. Claro que como toda doença deve ser tratada e tomar todos os cuidados necessários para não transmití-la e obter a cura. Deve ser tratada como uma doença e não com "ah, isso não é nada". Mas o alarde da imprensa realmente chateia. O vírus da Influenza A possui as letras H e N conforme explicado acima, que variam de H 1 a 16 e de N 1 a 9, porém em humanos existem “somente” H 1, 2 e 3 e N 1 e 2. Normalmente a morte é causada por uma tempestade de citocina que ocorre no corpo, principalmente nos pulmões. Pra quem não lembra, a citocina é um grupo de moléculas do corpo que envia sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes. A coisa acontece assim: Quando o sistema imunológico está combatendo uma doença, a citocina manda sinais para as células de defesa do corpo (leucócitos) seguirem para o local da ocorrência. E a citocina ativa essas células de defesa estimulando-as a produzirem mais citocina. Normalmente o corpo controla esse ciclo de resposta porém algumas vezes a reação se torna incontrolável, e muitas células de defesa são ativadas num único local (ninguém sabe ao certo o motivo), destruindo tecidos e órgãos. Se essa tempestade ocorre nos pulmões, por exemplo, as células de defesa junto com os fluidos do pulmão impedem a passagem de ar, podendo levar à morte por insuficiência respiratória.

Essa gripe é um exemplo de pandemia (do Grego pan “todos” + demos “pessoas”) que pode ser muito comum nos tempos vindouros, já que cada vez mais o mundo torna-se globalizado e o avanço tecnológico tem seu preço. Que estejamos preparados.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Julieta

“Ame o próximo como a ti mesmo”. Frase célebre que Jesus disse ao povo que escutava seu sermão. “Quem é o próximo?” Perguntaram seus discípulos. Foi quando Jesus explicou a história do cidadão que foi assaltado e ficou muito machucado no chão, quase morto. Então, um sacerdote passa, vê aquilo e se desvia em vez de ajudar o camarada caído. De igual modo fez um Levita, povo religioso da época que também não o ajuda. Aí chega um samaritano (que era considerado um povo tolo pelos judeus) e ajuda aquele homem caído, cuidando do moribundo e deixando pago seu tratamento médico. Para mim, cuidar do próximo não é só ligar para um número de telefone que dar uma quantia em dinheiro para alguém que você nunca viu na vida, muito menos tem certeza de que aquilo será realmente entregue. Cuidar do próximo é dispender tempo, afeto, carinho, compaixão. E teu próximo é aquele que está mais próximo de ti. O que adianta ajudar um mendigo dando-lhe algumas moedas e chegar em casa e espancar seu filho, ou destratar sua esposa? Eles por acaso não estão mais próximos de você do que o mendigo? A família não está mais próxima que o desconhecido cidadão? Mas quão interessante são as pessoas que eu não conheço muito bem, não é mesmo? Como é difícil o tratamento diário, cuidar da pessoa mesmo com seus defeitos, com seus problemas, com seus não merecimentos. Por isso esse artigo é sobre minha avó. Nessa segunda-feira ela completa oitenta e nove anos. Desde pequeno eu fui muito bem cuidado por ela. Desde sempre ela demonstrou um amor por mim que eu nunca vi nada parecido. É difícil conseguir escrever aqui o que sinto por ela, porque não dá pra traduzir em palavras o que a gente sente. O que dá pra fazer é uma tentativa de chegar perto, e inclusive ao digitar essas coisas meus olhos se enchem de lágrimas. Aquele nó na garganta típico de quem quer desabar num choro comovido. Já disse a ela algumas vezes que a amo muito, demais mesmo, mas mesmo assim acho que é pouco pra expressar o que está aqui no meu peito. Meus pais se separaram quando eu tinha dez anos, e desde sempre me lembro muito bem que meus avós maternos foram para mim de extrema importância, moldando meu caráter enquanto eu crescia e evidenciando muito bem o amor que deveria existir de um para com o outro. Amar, acima de tudo, é doar. É esquecer que você existe, esquecer seu interesses e seu ego em troca do outro. É fazer pelo outro independentemente do que você acha que ele mereça. Amar não é um processo meritocrático. O amor é incondicional, e assim deve ser, pois Deus é amor, e se fosse por meritocracia todos nós já estaríamos mortos há muito tempo. O amor que minha avó sente por mim é algo que transcende qualquer tipo de entendimento, mesmo porque eu não fiz absolutamente nada pra merecê-lo, muito pelo contrário. Lembro-me que já briguei com ela quando era adolescente. Hoje em dia vejo como fui imbecil, e sei que ela simplesmente apagou isso com a borracha da graça. A mesma borracha com que Deus apaga nossos pecados. Hoje, sendo cristão, consigo enxergar o que antes era complicado para mim: “Ame seu próximo como a ti mesmo”. Não conseguia entender como poderia amar alguém que não merece. Amar alguém que não fez por merecer. Pois é, olhando para minha avó consigo entender um pouco. E foi isso que me abriu os olhos para o mundo, tentando ver as coisas com essa ótica, com as lentes do amor. Com isso pude entender a Graça divina. Pude entender como alguém pode gostar de outra pessoa que não merece. Hoje só consigo expressar essas poucas palavras que minha avó mudou a maneira com que vejo o amor. Amar é doar. Não é dar dinheiro. Não é pagar as contas. Amar é se dedicar. Amar é cuidar do outro em detrimento ao seu interesse. Amar é perder o seu tempo para dar para o outro. Muitos pais acreditam que amar seria não deixar faltar nada, custeando seus filhos e negligenciando-lhes atenção. Não é nada disso. Na fartura ou na pobreza, amar é estar presente. É tirar da sua boca para que o outro se alimente e você fique com fome. Isso eu aprendi com minha avó, que fez isso pelos seus filhos e fez isso também por mim. Vó, eu te amo muito. Feliz aniversário! Mais uma vez vou te dizer: EU TE AMO, VÓ!

domingo, 31 de maio de 2009

42

Analisando tudo que havia se passado, agora ele estava mais calmo. Trancado em seu mundo, seu quarto, conseguia só agora admitir que o diferente era ele. Não poderia obrigar as pessoas a serem como ele, pois pessoas eram pessoas e consequentemente eram diferentes. O grande conflito que permeava sua mente era o motivo da maioria não ser assim, mas exatamente o contrário. Ninguém se interessava pelo que ele se interessava, e vice-versa. Não tinha muitos amigos com que pudesse conversar sobre seus temas preferidos. Um livro lido, um gibi de Alan Moore, um filme de Aronofsky, enfim... Ele era Nerd. E, como todo bom Nerd, era incompreendido. Ninguém queria saber a profundidade de Matrix e a maioria achava O Senhor dos Anéis um saco. Quase todos sabiam sobre a novela ou que estava acontecendo nos reality shows, menos ele. E todos amavam falar da vida dos outros, claro. Completamente deslocado nas conversas, se refugiava no seu quarto, achando que ora ele era especial ora um idiota. Não é muito fácil ser assim, nem tampouco agradável. As coisas que lhe davam prazer era o conhecimento, e isso às vezes se tornava um vício. Queria saber mais e mais e a frustração de não conseguir chegar perto do que queria e nem da capacidade de sua memória faziam um buraco em seu estômago e uma angústia incurável. A ansiedade costumava andar com ele direto. O que mais ficava em sua cabeça eram o Por quê e o Como. Não se conformava com os "porque sim" da vida e desde sempre procurava buscar os motivos. Coisa que só ele fazia da sua turma, e assim foi desde sempre. Hoje, mais maduro, entende que a vida é simples, e as complicações servem para confundir e aumentar a angústia. Conseguia entender a música de Lobão, que diz “A maior expressão da angústia pode ser a depressão, algo que você pressente. Indefinível, mas não tente se matar, pelo menos essa noite não.” Aos poucos, foi percebendo que podia ser diferente, porque não que todos fossem imbecis, mas todos eram diferentes. Chegou a duvidar de John Donne, e talvez cada homem fosse sim uma ilha. A humildade é a chave da sabedoria, e assim quis buscar o máximo que pudesse. Sabia que existia algo maior, algo além de sua capacidade de entendimento. Algo que preenchesse o espaço vazio dos motivos e razões que questionava. Existia algo simples. Simples como E=mc2. Simples que poderia sentir-se bem com o pouco. Sentir-se completo. Existia um entendimento que a chave era o amor ao próximo. Tinha lido algumas coisas e embora não acreditasse na veracidade daquilo, foi lendo mais e mais. Entendeu certa vez quando viu nos olhos do cidadão no frio, o qual ele trazia a blusa de lã, que ali estava a resposta de tudo. Ali, naquela porta de padaria fechada, de noite, no frio, aquele Zé Ninguém tremendo recebeu de graça algo para lhe aquecer, que para quem deu não era nada, porém para o moço era tudo. Existia algo então que preenchia o vazio. E percebeu que mais complicações existiam naquele tema. Se todos já não queriam saber de Matrix, imagina desse assunto. Era simples, mas todos complicavam demais. Faziam dos ensinamentos escritos há muitos anos uma verdadeira zona. Ninguém se entendia. Todos estavam preocupados em rebater acusações, em apontar castigos, em julgar. Organizações preocupadas com lucros. Porém, ele tinha esperança ainda que tanto os que sabiam muito quanto os que não queriam saber um dia pudessem entender o que ele viu naquela noite. A noite que abriu seus olhos para Deus.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Fundação

Que bom seria se os livros de ficção fossem como essa obra de Isaac Asimov. Fundação é uma série de três livros escritos na década de 50 que contam a história de um futuro bem distante em que a humanidade povoou boa parte da Galáxia e existe um grande Império Galático, sendo este o governo da época. A história de Fundação é a história da queda desse Império e o surgimento de outro. Foi baseado no excelente livro de Edward Gibbon chamado Declínio e Queda do Império Romano. Terminei agora o primeiro livro e achei a obra fantástica. Além de muito atual a história é muito filosófica, passeando pela ciência, religião, dinheiro, política e comportamento. Fiz uma análise sobre a religião do livro e a religião que conhecemos hoje, com as igrejas tanto católica como protestante se aproximando numa tentativa furtiva de substituirem os circos. 

No livro, uma trama muito bem feita surpreende de maneira simples de como as decisões são tomadas pelas pessoas em momentos de crise, e como o pensamento culto favorece alguns poucos que o possuem para essas tomadas de decisões. Tudo começa com um cientista chamado Hari Seldon que desenvolve a chamada Psico-história, que seria algo como uma junção da psicologia, sociologia e matemática, possibilitando aplicar determinadas fórmulas entendidas por poucos para traçar um futuro mais provável. Tudo se baseava em estatística e probabilidade aplicada à sociedade, e Hari Seldon traça um plano para que com a inevitável queda do Império Galático, uma era de barbárie, seja encurtada com o acúmulo de conhecimento humano em uma espécie de enciclopédia, dando assim início a Fundação Enciclopédica, com sede em um planeta distante e isolado chamado Terminus. Esse acúmulo de informação evitaria assim que o conhecimento humano fosse perdido nas guerras que viriam a seguir, algo como uma Idade Média que conhecemos. Só o acúmulo de informação levaria o homem a sair desse buraco negro de bestialidade e daria a possibilidade de reerguer a sociedade a patamares aceitáveis de subsistência.

A obra Fundação foi relançada no Brasil, compilada pela editora Aleph num excelente trabalho de encadernação e tradução, já com as alterações feitas por Asimov em 1980, que alterou a obra para dar uma continuidade temporal nos três livros. A obra pode ser comprada aqui. Recomendo a leitura.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

TV Digital

Atualmente as lojas de eletrônicos brasileiras estão fervendo com as vendas de televisores de última geração. O famoso termo “Full HD” é moda e todos estão desvairadamente trocando seus velhos televisores de tubo para acomodar em sua sala a mais nova evolução dos aparelhos de TV. Já caiu na boca do povo Full HD, HDMI, LCD, Som 5.1, Blu-Ray, e todos já sabem o que querem. Mas você já parou para se perguntar o motivo de ter uma TV Full-HD em casa? Vamos esclarecer algumas coisas: Hoje a resolução de uma TV Full-HD é de 1920 x 1080 pixels, isso quer dizer que a quantidade de pontinhos coloridos que formam uma imagem quando aglutinados (pixel) presentes em uma TV Full-HD é de 2.073.600. Numa TV de tubo, comum, temos uma resolução de 400 x 400 linhas, ou seja, 160.000 pixels (em alguns casos chega a 480 linhas, ou 230.400 pontos). Em comparação com a Full-HD temos cerca de 13 vezes a resolução. Bem melhor, certo? Bem, não responda tão rápido assim. Ao levar pra casa essa super TV Full-HD 1080p com HDMI blá, blá, blá, e ligar ela numa NET da vida, vai ter uma qualidade, digamos assim, péssima. O motivo é que a NET (seja lá o plano que for, inclusive a “digital”) tem uma qualidade de imagem compatível com as TV’s de tubo (alguns juram que é melhor), ou cerca de 480 linhas. Quando colocadas numa TV Full-HD é como calçar um sapato de palhaço. A TV com mais linhas tenta acomodar essa imagem inferior e causa uma série de distorções. Vou te dar um exemplo básico. Observe a imagem abaixo:



Agora vamos aumentar a resolução com a mesma imagem:



Observou que a imagem ficou um pouco serrilhada? Isso porque a imagem foi ampliada sem alteração na qualidade, ocorrendo uma distorção. Como se ela fosse esticada, por assim dizer. Bem, não é bem isso que acontece na imagem da Full-HD mas o exemplo serve para você entender. Acontece distorção também quando a TV é Wide screen e a imagem transmitida não é.

Teríamos uma Ferrari para andar em uma estrada esburacada. Não funciona muito bem. Para termos a qualidade de uma Full-HD temos que ter o aparelho de Blu-Ray, ou um Playstation 3 que já possui o Blu-Ray. Aí sim a qualidade é 100% aproveitada, tanto de imagem quanto do som, se (e somente se) for ligada com o cabo HDMI. O Blu-Ray é a evolução do DVD e provavelmente onde você vai assistir seus filmes no ano de 2011.

Para as transmissões de TV a cabo de péssima qualidade das TV pagas, somente alguns canais pagos (e muito bem pagos) transmitem em Full-HD, mas são no máximo meia-dúzia e você vai pagar um plano mínimo de R$ 250,00. Não vale a pena. Para a TV digital brasileira, padrão japonês (não pergunte por que escolheram o japonês mas tem uma conhecidência enorme a Globo ter comprado os aparelhos japoneses meses antes da decisão do governo), a transmissão chega a 1080p, mas tudo depende do adaptador que você comprar, pois alguns são limitados e só chegam a 720p. Para que você tenha os canais abertos em Full-HD você precisa do adaptador digital (caso sua TV não tenha) e uma antena UHF externa. Bem melhor que pagar uma TV a cabo ou satélite, e observe que apenas algumas emissoras e em certos horários transmitem em alta definição. Ainda vamos ter que esperar muito tempo até termos um nível de Japão e Estados Unidos em transmissões de TV.

Outra dúvida que a maioria das pessoas tem é sobre a conversão de filmes antigos em Blu-Ray, se perderia a qualidade. Os filmes que foram filmados em 35mm (quase todos a partir do começo do século XX) podem ser resolvidos em uma resolução de 4096x3072, ou seja, o dobro do Blu-Ray. Portanto, não há perda de qualidade em relação a definição de imagem, mas deverá passar por uma "remasterização" para a transformação da película para o Blu-Ray. Pena que muitos não fazem e a imagem fica meia-boca. Mas a possibilidade existe.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Superlativos

Esse negócio de superlativo é muito complicado mesmo. Mais complicado ainda é assistir ao show de horror que as pessoas fazem de seu uso. Já enjoei da palavra “magérrima”, que obviamente não existe. Caso não saiba, o superlativo é a exponenciação de uma determinada característica. Só se usa os sulfixos ~érrimo, ~íssimo e ~imo para um tipo bem específico de superlativo, chamado estranhamente de superlativo absoluto sintético. Esse tipo de superlativo é dividido em duas partes: A forma erudita e a forma popular. Na forma erudita, a única forma que aceita o sulfixo ~érrimo, deve ser composta pelo radical em latim da palavra + seu sulfixo. Em outras palavras, não há “magérrimo”, como a amiga fala da outra amiga no metrô, normalmente na sua orelha. O superlativo de magro é macérrimo. Se quiser pode usar a forma popular (aquela forma que o povo que não estudou fala e acaba convencendo os eruditos a dizerem “tá bom a gente põe no dicionário essa bosta”), que seria magríssimo. Acho que a substituição da palavra por superlativo deve ser feita apenas e tão somente se for dita da maneira correta. Se o camarada não sabe como dizer, prefira o simples “muito magra”, “extremamente magra”, “magra pra cara...mba”, “chassis de grilo”, “caveira ambulante” e por aí vai. Se for para dizer “magérrima”, é melhor esquecer que existe superlativo. Mas aí vem aquela velha pergunta: Você se lembra das aulas de português da quarta ou quinta séries? Claro que não, né? Outra pergunta é: Você tem o costume de ler? Ah, claro que não. Mas as novelas da Globo você assiste? E ainda quer ficar falando “magérrimo” na minha orelha? Ah, pelamordedeus. Aqui vai uma listinha de superlativos retirados do site Só Português:

Humilde: humílimo
Jovem: juveníssimo
Livre: libérrimo
Magnífico: magnificentíssimo
Magro: macérrimo ou magríssimo
Manso: mansuetíssimo
Mau: péssimo
Nobre: nobilíssimo
Pequeno: mínimo
Pobre: paupérrimo ou pobríssimo
Preguiçoso: pigérrimo
Próspero: prospérrimo
Sábio: sapientíssimo
Sagrado: sacratíssimo

Viu só como é complicado? Então faça o simples. Use o superlativo relativo ou o absoluto analítico, que é o “muito aquilo”, “bastante isso”, “a mais aquilo”, e por aí vai. Tá parecendo a galera de informática que fala “mandatório”. Dói na orelha. Não existe, sabia?
Muitos programadores costumam dizer “o preenchimento do campo é mandatório”, numa tentativa de dizer que o preenchimento do campo é obrigatório. “Mandatory” existe em inglês, aí a tradução “popular” livre e errada passa a ser “mandatório”. Daqui a pouco os eruditos vão ser obrigados a introduzir a palavra no dicionário, mas até lá ela ainda não existe, portanto não a use.

sábado, 2 de maio de 2009

Fobias

Tem um rapaz que trabalha comigo que não conseguiu assistir ao seriado Fringe porque tinha muito sangue na tela. Ele é hematofóbico. Se você não sabia que existia uma fobia para esse tipo de coisa, não se preocupe. Existe fobia para tudo quanto é tipo de coisa. Das mais comuns, como aracnofobia ou claustrofobia que a maioria conhece, até a coisas absurdas como por exemplo:

• Grafofobia: Medo de escrever à mão. Eu sempre tive isso nas aulas de português e minha mãe nunca entendia...

• Triscaidecafobia: Medo do número 13. Também conhecido como viadagem, no caso dos homens (ou não tão homens) terem essa fobia, não acha?

• Melaxofobia: Medo de amar. Mais gay que a primeira;

• Peladofobia: Não, não é medo de ver gente pelada. É medo de pessoas carecas! Ahahaha;

• Ovofobia: Pavor de ovos. Estou pensando em algum comentário...;

• Atoxofobia: Medo de desordem. Que essas pessoas nunca vejam meu guarda-roupas;

• Claurofobia: Medo de palhaços. Bem, não é de gente palhaça, mas do próprio ser pintado com sapatão que quer botar fogo no circo;

• Agorafobia: As praças gregas eram conhecidas como ágora, e o agorafóbico tem medo de lugares de grandes eventos sociais, e também significa o distanciamento da sua zona de segurança, como sua casa ou das pessoas que lhe dão segurança;

• Araquibutirofobia: Essa é a pior. Medo de que a pele do amendoim ou de pipoca (veja só) fique grudada no céu da boca (!). Olha o naipe do absurdo da fobia. Eu certamente não conheço ninguém assim, mas posso imaginar como seria o tipo.

Quando você for ao cinema, perceba se tem alguém cutucando o dente fazendo aquele barulhinho lindo de chupada com beijação de santo. Se tiver alguém assim, não ache que ele é um porco sem educação. Prefira achar que ele tem uma doença. Pergunte educadamente se ele é araquibutirofóbico.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O Abajur

- Sério? Não acredito que você não consegue entender o sentido de sua vida. Como pode? Todos nós aqui entendemos - replicou o criado-mudo ao abajur.

- Pois, é criado-mudo, eu não consigo entender meu propósito. Você serve, ou serviu, para guardar coisas, servir de apoio e me sustentou minha vida toda. A cama, veja só, serviu acomodar as pessoas, que fizeram um bom uso dela em seus repousos e amores. O piso, sustenta aqui tudo desde sempre. Olhe o guarda-roupa. Cheio de divisórias que acomodaram muitas coisas, que saiam e eram colocadas novamente, e ele abrindo e fechando, acomodando e arquivando. A lâmpada do teto é também muito útil. Enfim, todas as coisas desse quarto. Agora olhe para mim. Não faço nada. Não sirvo para nada. Ninguém vem aqui faz tempo. Desde que fui feito estou dentro desse plástico e não entendo direito. Só sei meu nome porque consigo ler na etiqueta pregada em mim, amarelada pelo tempo que fiquei aqui parado. E ainda não sei se me chamo abajur ou se me chamo “Para Bárbara”. É de uma revolta muito grande. Não consigo entender nada.

- Mas sempre existe uma maneira que possa te explicar o sentido disso tudo, abajur. Eu, sendo criado-mudo, até que consigo me satisfazer com as coisas, sabe? Eu, embora não seja usado faz tempo, ainda me lembro de minha utilidade. Nesse quarto, desde que o Sr. Antônio não dorme mais aqui, ninguém entrou mesmo. Você ficou aí e nunca viveu nada com o Sr. Antônio. Ele quem nos trouxe aqui e era ele o sentido do nosso uso. Como ele não está mais, talvez seja isso que tenha deixado você sem saber sua utilidade. Mas tenho certeza que você tem sim um uso, pena que ninguém aqui descobriu ainda.

- Tá, sei disso tudo. Mas tem dia que bate um desespero. Mas deixa pra lá. Deixa eu quieto aqui.

O tempo passava devagar naquela casa. Ninguém mais foi àquele quarto. Era estranho porque ainda existiam pessoas as quais Sr. Antônio mantinha um certo contato, mesmo que usando o aparelho de telefone. Foi então que após seis meses de escuridão, aquele quarto foi destrancado. Ali, uma mulher com um rapaz analisaram o local. Acenderam a luz principal e tudo estava quieto e empoeirado. Comentaram algumas coisas entre si, as quais nada no quarto entendeu direito, mas pelo que parecia as coisas iriam mudar, e mudar fisicamente. Logo, a cama foi retirada com seu parceiro colchão. Um pouco mais tarde, o guarda-roupas. E, impressionantemente, o abajur ainda estava mais entediado a curioso. Num mundo de aflitos, ele estava ali parado e não ligando. A vida não tinha a menor graça. Que sentido tinha aquela merda toda? Já tinha ouvido inúmeras histórias, disso e daquilo, que legal que era isso ou aquilo. Que experiência esse teve ou aquele. Mas ele mesmo não teve nada. Foi fabricado, se lembra que existiu muito brevemente num local grande e foi trazido aqui pelo seu Antônio, que chegou, o colocou no criado-mudo, seu melhor amigo, e deitou na cama, para nunca mais acordar. A neta de seu Antônio olhou fixamente para ele, o abajur, e com uma cara intrigada, retirou seu plástico. Após ler a etiqueta, seus olhos encheram de lágrimas. O abajur começou a imaginar que diabos estava acontecendo, pois agora estavam destruindo ele, removendo seu fiel companheiro plástico de embalagem. Foi quando ela pegou o plugue e ligou-o na tomada. Apertou o interruptor do abajur e tudo fez sentido para ele, que iluminava seu redor e sentia a energia percorrendo seu corpo.

- Vamos, Bárbara. Temos que falar com o rapaz da imobiliária ainda. Leve o abajur para você – Falou o rapaz para a moça, agora longe dali em seus pensamentos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Coloque o arquivo de guerra no gato Tom.

“O Sr. Já trabalhou com AJAX? – Perguntou o entrevistador a seu candidato.
Sim, claro que já. Trabalhei há dez anos com AJAX. – Respondeu o candidato à vaga de Analista de Sistemas Java.
Surpreso, o entrevistador questionou-o:
- Como assim ‘há dez anos’? AJAX só existe de fato há três anos.
- Ah, não é verdade. Eu trabalhava com AJAX junto com meu pai. A gente vendia muitos litros. Ele tinha uma Kombi, sabe...
- Calma, calma. – interrompe o entrevistador já irritado – Eu estava falando de outra coisa. Olha esquece, tá? E sobre Swing?
- Ah, isso eu não faço não. Sou casado.” [1]

O mercado da informática tem suas peculiaridades, assim como toda profissão, e essas peculiaridades são um tanto quanto estranhas para quem fala o idioma tupiniquim. Algumas coisas no mundo da programação de computadores simplesmente não podem ser traduzidas, pois perderiam todo o sentido. O exemplo acima diz respeito a uma tecnologia chamada AJAX, que tem o mesmo nome de uma marca famosa de produtos de limpeza para uso geral, de propriedade da Colgate. Swing é o nome de outra tecnologia, com mesmo nome alusivo à mais completa putaria conhecida. Por isso alguns livros pecam muito em tentar traduzir termos e nomes que não podem ser traduzidos. Na linguagem de programação Java (que quase se chamou Carvalho... Eu disse CARVALHO), existe uma função principal chamada “main” (main é principal, em inglês). A composição dessa função (que em Java chama-se método) tem um nome grande, e se fossemos traduzir teríamos a pérola:

Vácuo público da estática principal ( args[] da Corda ); [2]

Veja que beleza. Não dá para traduzir. Cada palavra tem um sentido específico em inglês, válido somente para o contexto em questão.

Quando você faz um desenvolvimento em Java, são gerados pacotes, que possuem extensões de arquivo, do tipo jar, ear e war. Um dos servidores que rodam esses arquivos é chamado de Tomcat (O Gato Tom). Vai lá você traduzir: Coloca pra mim a guerra, a orelha e o jarro no gato tom, por favor? Alguém que estivesse passando acharia no mínimo que errou o caminho e foi parar no hospício. Só faz sentido em inglês.

Outra coisa interessante são os nomes das tecnologias e produtos. Temos Ajax e Gato Tom, como vimos acima, Java Servidor Caras, Caras Ricas, Java Grão de Café, Hibernar, Primavera, Chapéu Vermelho, Lixeiro, Sabão, Eclipse, Peixe de Vidro, e por aí vai. Tanta criatividade atrapalha muito os tradutores não familiarizados.

Esses dias estava assistindo o filme “Across de Universe” e estavam traduzindo na legenda as músicas dos Beatles. Cada pérola que saia que eu me matava de rir. Uma das mais engraçadas foi no refrão da música “I am the Walrus”, onde John canta “I am the eggman, they are the eggmen, I am the walrus,Goo goo ga joob”. Lennon certa vez recebeu uma carta de um estudante dizendo que seu professor de língua inglêsa estava analisando as músicas dos Beatles. John então num tom provocativo escreveu I am the Walrus, uma música cheia de referências, simbologias e aberta a várias interpretações, e Eggman é Intelectual e não “cabeça de ovo” como foi traduzido na legenda. A tradução/interpretação do refrão deveria ser “Eu sou o intelectual, eles são os intelectuais. Eu sou a morsa, bom bom bom trabalho”. Nada a ver com o que foi colocado lá na legenda, por uma pessoa ou grupo que não entendia nada de Beatles.

Bom tradutor é aquele que entende o espírito da coisa e coloca a tradução interpretada corretamente ou deixa o termo em inglês. Um bom exemplo é o livro “Direitos Iguais, Rituais Iguais” de Terry Pratchett que saiu aqui pela editora Conrad. Os tradutores espertamente colocaram os dois sentidos de “Equal Rites”, título em inglês. Rites significa rituais ou ritos e tem a mesma pronúncia de “rights”, direitos. Faz todo sentido, pois é uma história de uma menina que quer ser mago, profissão permitida somente para homens, no livro. Então ela quer ter direito (rights) de ser mago e praticar seus ritos (rites). Parabéns à Conrad.


[1] AJAX significa Asynchronous JavaScript and XML.
[2] Obviamente todo programador Java conhece o método public static void main( String[] args)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fora do Padrão

Estava conversando com uma amiga durante um jantar sobre seu irmão, que era totalmente atípico do “padrão” do cidadão comum. O menino não gostava da escola, desde sempre, e não se encaixava no padrão da sociedade como conhecemos. Ele, apesar disso, tinha uma veia artística muito forte. Desde pequeno seus presentes frequentes eram papel e giz de cera. Nas provas de geografia ele entregava as questões em branco, mas havia na prova muitos desenhos. Vale lembrar que uma dessas provas em questão era com consulta. A primeira impressão que teríamos seria de um alienado, um limítrofe ou qualquer adjetivo pejorativo, pois esse elemento (ou mau elemento) não se enquadra na nossa sociedade.

Analisando o “caso” na mesa do jantar pude constatar que ele realmente não seguirá os padrões há muito solidificados, pois esse menino é um artista nato. Ele não usa nem a mesma metade do cérebro mais utilizada por nós. O artista é um ser incompreendido na sua “loucura”. As pessoas tentam convencer os artistas a seguirem o padrão natural das coisas. Principalmente os pais, que tentam encaminhar o filho para uma profissão conhecida, como medicina, engenharia, advocacia, e a nova moda: informática. O grande problema com isso é frustração mútua, pois o artista não consegue seguir esse tipo de burocracia e nem os pais conseguem fazer com que ele siga. De um lado temos pais frustrados perguntando “onde será que errei?” e de outro temos uma pessoa introspectiva, frustrada, deprimida. Não acredito que o caminho de todos seja igual. Alguns se destacam justamente por pensar diferente. Nas artes a coisa fica ainda mais complicada. A criatividade só é cultivada num ambiente sem burocracia. Onde há burocracia não há criatividade, como disse Domenico de Masi no seu ótimo livro “O Ócio Criativo”. Artistas no geral são difíceis de se adaptarem em nossa sociedade. São contra o sistema por natureza, e a razão é muito simples: A criatividade não se bica com a burocracia dos padrões. Uma pessoa com veia artística se aborrece com os estudos de coisas que achamos normais. Para o artista é tortura. Os professores em vez de esclarecerem aos pais o tipo de filho que eles possuem só reprimem a pessoa por não se encaixar. Isso vem desde sempre, e podemos verificar no cinema filmes de artistas incompreendidos, como Pollock por exemplo. Pollock desenvolveu em sua pintura alguns conceitos da teoria dos fractais e teoria do caos, isso dez anos antes da Teoria do Caos ser proposta. São pessoas que enxergam diferente da maioria. Não estúpidos, como são tratados muitas vezes, mas são diferentes e podem mudar todo um conceito. Para pessoas assim devem existir estímulos que o façam seguir em frente com sua arte e botar em prática suas idéias, ao invés de reprimir o padrão incompreendido. É uma pena que tenhamos tão despreparados professores que normalmente são os primeiros a observarem tais dons e também pais que não entendem o “monstrinho” que estão criando.

Existem hoje muitos cursos que podem dar ao artista asas para voar e ser muito bem sucedido nas áreas de propaganda, desenvolvendo modelos de animação, modelagem, concepts e um universo de trabalhos que o mercado carece. A indústria de games americana fatura mais que o cinema e existe uma briga por esses profissionais que desenham bem, fazem modelos 3D, concepts, animação e uma infinidade de trabalhos que só se adequam aos artistas. Essas pessoas que conseguem passar pela barreira dos pais e pela barreira da formação padrão, conseguem um grande sucesso e são muito bem remunerados, mesmo para o parão americano de salários. Aqui no Brasil temos muitas agências que buscam tais profissionais e sempre existem vagas abertas, pois a oferta é pequena frente a enorme demanda.

Voltando um pouco no livro de Domenico de Masi, ele indica que o futuro terá vagas abertas apenas para a criatividade. Pessoas metódicas acostumadas ao trabalho como conhecemos terão grandes chances de ficarem desempregadas num futuro próximo. Teríamos um apocalipse cultural e social então? Talvez um dia as pessoas olhem para os metódicos com o mesmo preconceito com que hoje olham o artista. Imagine você, quem daria emprego a alguém com um alargador na orelha? Imagine... continue imaginando, pois esta é a idéia de um futuro próximo.