segunda-feira, 29 de junho de 2009

Julieta

“Ame o próximo como a ti mesmo”. Frase célebre que Jesus disse ao povo que escutava seu sermão. “Quem é o próximo?” Perguntaram seus discípulos. Foi quando Jesus explicou a história do cidadão que foi assaltado e ficou muito machucado no chão, quase morto. Então, um sacerdote passa, vê aquilo e se desvia em vez de ajudar o camarada caído. De igual modo fez um Levita, povo religioso da época que também não o ajuda. Aí chega um samaritano (que era considerado um povo tolo pelos judeus) e ajuda aquele homem caído, cuidando do moribundo e deixando pago seu tratamento médico. Para mim, cuidar do próximo não é só ligar para um número de telefone que dar uma quantia em dinheiro para alguém que você nunca viu na vida, muito menos tem certeza de que aquilo será realmente entregue. Cuidar do próximo é dispender tempo, afeto, carinho, compaixão. E teu próximo é aquele que está mais próximo de ti. O que adianta ajudar um mendigo dando-lhe algumas moedas e chegar em casa e espancar seu filho, ou destratar sua esposa? Eles por acaso não estão mais próximos de você do que o mendigo? A família não está mais próxima que o desconhecido cidadão? Mas quão interessante são as pessoas que eu não conheço muito bem, não é mesmo? Como é difícil o tratamento diário, cuidar da pessoa mesmo com seus defeitos, com seus problemas, com seus não merecimentos. Por isso esse artigo é sobre minha avó. Nessa segunda-feira ela completa oitenta e nove anos. Desde pequeno eu fui muito bem cuidado por ela. Desde sempre ela demonstrou um amor por mim que eu nunca vi nada parecido. É difícil conseguir escrever aqui o que sinto por ela, porque não dá pra traduzir em palavras o que a gente sente. O que dá pra fazer é uma tentativa de chegar perto, e inclusive ao digitar essas coisas meus olhos se enchem de lágrimas. Aquele nó na garganta típico de quem quer desabar num choro comovido. Já disse a ela algumas vezes que a amo muito, demais mesmo, mas mesmo assim acho que é pouco pra expressar o que está aqui no meu peito. Meus pais se separaram quando eu tinha dez anos, e desde sempre me lembro muito bem que meus avós maternos foram para mim de extrema importância, moldando meu caráter enquanto eu crescia e evidenciando muito bem o amor que deveria existir de um para com o outro. Amar, acima de tudo, é doar. É esquecer que você existe, esquecer seu interesses e seu ego em troca do outro. É fazer pelo outro independentemente do que você acha que ele mereça. Amar não é um processo meritocrático. O amor é incondicional, e assim deve ser, pois Deus é amor, e se fosse por meritocracia todos nós já estaríamos mortos há muito tempo. O amor que minha avó sente por mim é algo que transcende qualquer tipo de entendimento, mesmo porque eu não fiz absolutamente nada pra merecê-lo, muito pelo contrário. Lembro-me que já briguei com ela quando era adolescente. Hoje em dia vejo como fui imbecil, e sei que ela simplesmente apagou isso com a borracha da graça. A mesma borracha com que Deus apaga nossos pecados. Hoje, sendo cristão, consigo enxergar o que antes era complicado para mim: “Ame seu próximo como a ti mesmo”. Não conseguia entender como poderia amar alguém que não merece. Amar alguém que não fez por merecer. Pois é, olhando para minha avó consigo entender um pouco. E foi isso que me abriu os olhos para o mundo, tentando ver as coisas com essa ótica, com as lentes do amor. Com isso pude entender a Graça divina. Pude entender como alguém pode gostar de outra pessoa que não merece. Hoje só consigo expressar essas poucas palavras que minha avó mudou a maneira com que vejo o amor. Amar é doar. Não é dar dinheiro. Não é pagar as contas. Amar é se dedicar. Amar é cuidar do outro em detrimento ao seu interesse. Amar é perder o seu tempo para dar para o outro. Muitos pais acreditam que amar seria não deixar faltar nada, custeando seus filhos e negligenciando-lhes atenção. Não é nada disso. Na fartura ou na pobreza, amar é estar presente. É tirar da sua boca para que o outro se alimente e você fique com fome. Isso eu aprendi com minha avó, que fez isso pelos seus filhos e fez isso também por mim. Vó, eu te amo muito. Feliz aniversário! Mais uma vez vou te dizer: EU TE AMO, VÓ!

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