A maioria tem a nítida impressão que o mundo caminha para frente. O tempo anda em uma só direção. A velocidade da luz é intransponível. E a modernidade é sempre uma coisa boa. Imaginamos no passado distante que em 2012 teríamos carros voadores. Que teríamos robôs serviçais, que usaríamos roupas inteligentes, viveríamos até os 300 anos e que o petróleo seria coisa do passado. Imaginamos muita coisa que não ocorreu. É inegável que tivemos um avanço tecnológico muito grande nesse último século. O que não imaginamos, ou talvez não fomos tão pessimistas assim, era que para algumas coisas a modernidade chegou de forma errada. Coisas que foram (re)inventadas para suprir necessidades que nunca existiram e os efeitos colateriais de certas invenções, que até o momento não se sabe ainda como resolver alguns desses problemas. Vejamos alguns exemplos:
Embalagens
Não é possível que todas as embalagens de leite atuais sejam tão complicadas assim. Antigamente era um saquinho, ou uma garrafa com rolha (bem mais antiga), mas hoje a tecnologia mudou isso. Só esqueceram de avisar ao engenheiro que aquilo que ele criou é uma merda. Tem uma embalagem específica que compro que simplesmente não funciona. Todas as 50 vezes que abro, 49 estoura o lacre na minha mão e espirra leite até meus cotovelos. Preciso então pegar uma faca e cavucar o resto do buraco do leite. Ninguém testou não? Ou melhor, percebi que se o leite está em temperatura ambiente, ele abre bem. Isso significa que ninguém testou APÓS ser resfriado na geladeira! Outras embalagens de leite abrem fácil, mas o leite sai “à galope” como disse um amigo meu, e você toma um banho junto. É melhor abrir seu leite pelado e antes de tomar banho.
Outra embalagem que é retardada são os saquinhos de salgadinhos em geral. Sério, aquilo foi sacanagem de estagiário. Não é possível. Ninguém com um cérebro pensaria em desenvolver uma porcaria dessas. NUNCA abre no picote, e ou estoura de uma vez, fazendo a “chuva pública da vergonha”, ou rasga de fora a fora (fora inclusive do picote), salgando seu saco nesse processo. É a mosca do cocô do cavalo do bandido mesmo.
Meios de pagamento
Antes você entrava num mercadinho, pegava as coisas com os preços etiquetados e pagava no caixa com dinheiro, saia feliz da vida. Hoje é um parto fazer compras. Primeiro porque as coisas não tem preço. Fica a critério da sua surpresa ao passar no caixa. As gôndolas que deveriam marcar quanto custa a mercadoria sempre estão com a etiqueta desaparecida (coincidentemente), e nem adianta tentar passar o código de barras naquele maldito aparelho que NUNCA funciona. O cara que criou aquele aparelho deve ser o mesmo que criou as embalagens de leite (e o sistema de catracas). Aí você chega no caixa para pagar, e a bobina acaba. A caixa pede pra outra pessoa pegar uma bobina no estoque. Depois de trocada, pergunta seu CPF para verificar se você é cliente. Ou não entende seu CPF ou erra umas oito vezes. E chega a vez do pagamento com cartão, que invariavelmente demora para autenticar sua compra, quando autentica de primeira. E você ali, com cara de pastel, questionando a modernidade.
Catraca
Antigamente as catracas eram mecânicas, e marcavam quantas pessoas entravam ou saíam de um determinado local. Aí teve um gênio que resolveu colocar um “sistema” pra controlar “melhor”. Só que ele não pensou em um pequeno detalhe: Fazer um sistema rápido e que funcione. Aí você passa na catraca e ela resolve travar alguns centímetros depois que seu cérebro pensou que ela iria funcionar. É um arreio no meio dos países baixos que me dá vontade de voltar e pular com os dois pés na maldita cadela. Tudo porque o sistema é uma porcaria, feito por amadores, e não autenticou sua passagem. Qual catraca que você conhece que funciona? Até hoje não conheço nenhuma, e a cada dia só pioram.
Senhas
Essa pra mim é o pior efeito colateral da modernidade. É um absurdo a quantidade de senhas que temos que decorar, ou anotar num papel, o que faz menos sentido ainda ter senha. Senha só serve para atrapalhar, e como o reconhecimento biométrico ainda é ficção científica, pois na prática não funciona, ainda temos que depender de decorar senhas. E a cada dia fica mais difícil. Agora o mínimo aceitável são oito dígitos, com símbolos e maiúsculas com minúsculas, não pode ser isso ou aquilo, não pode conter determinada sequência, etc. Tudo isso por causa de uma minoria que ou é mal intencionado em burlar a segurança ou é burro de colocar senhas ridículas. Mais ridículo é clicar em um e-mail de banco pedindo para digitar sua senha. E olha que teve gente da minha área de informática que caiu nessa.
O banco em que tenho conta pede 3 senhas para acesso pela internet, e ainda instala um programa no seu computador. A cada dia ele inventa mais um treco para complicar o acesso. Não seria mais interessante, mais barato e mais eficiente a humanidade investir em leitura da íris, ou impressão digital eficiente, em vez de rebolar para criar uma miríade de maneiras de colocar senhas nas coisas? Eu duvido que o que se paga com fraudes é menor que desenvolver um dispositivo de leitura da impressão digital. Duvido.
Médico
Graças ao avanço da medicina foi possível desvendar todos os problemas do corpo e mente em apenas dois únicos problemas: Ou é stress ou é virose. É o bóson de Higgs da medicina. O Santo Graal médico. No mundo moderno, quando precisamos fazer alguma consulta (e quando conseguimos atendimento) já podemos fazer nossas apostas sobre o diagnóstico. Temos 50% de chances de acerto, já que estamos sempre um dos dois casos acima (vale até tirar a sorte na moeda). E além disso, antes mesmo de você sentar na cadeira do consultório o médico já te receitou algum remédio (medium), o qual você toma só por tomar, já que nem stress nem virose são curados com drogas. E mais: O atendimento dura no máximo 8 segundos! Isso sim é que é modernidade!
Por essas e outras fico imaginando o mundo em 2112. Se o calendário maia permitir, provavelmente estaremos com algumas modernidades realmente ridículas, e com saudades de quando a vida era um pouco mais fácil de se viver.