quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Comunicação

Já era manhã naquele dia que seria problemático com certeza. Assumindo um contato como esse, qualquer dia ficaria conturbado. Sem dormir, Jonas pensava em como trataria o assunto. Primeiro imaginou por muito tempo como conseguiria uma comunicação, já que percebeu que os visitantes não falavam nenhuma língua terrestre, nem emitiam som aparente de uma comunicação. Bem, se eles quisessem nos destruir já o teriam feito. Isso era inegável. Agora o mais improvável era colocar ele, um simples pesquisador matemático de universidade, a conversar com uma raça alienígena. O que será que ele diria? Tinha pensado em inúmeras teorias, em levar fórmulas matemáticas, em levar alguma coisa que pudesse expressar uma possível comunicação. Após algumas semanas sem dormir direito e praticamente sem dormir nada na noite anterior, Jonas caminhava agora para o helicóptero das forças armadas, que o levaria para o local de pouso da nave, e aonde ele rumaria dali para dentro dela sozinho. Junto de seu peito apertava uma pasta contendo papéis, um tablet, lasers, fotos, e uma gaita. Acharia que talvez a música poderia ser uma forma de comunicação, e já que arranhava alguma coisa na gaita... pelo menos era uma tentativa, ora. E todos usam música como forma primária de comunicação, certo?
Ninguém havia conseguido uma forma de contato ainda, e uma multidão de vários países já tinha tentado. Aparentemente os visitantes eram pacíficos e não fizeram nenhum tipo de destruição em sua visita aqui, a não ser ter dado um grande susto por parte das autoridades. O local também fora aleatório, já que seria bem improvável um pouso em um país de terceiro mundo, principalmente na floresta amazônica, local pouco habitado frente às metrópoles. Achou ridículo a postura das autoridades, que o vestiram com roupas espaciais, temendo alguma forma de vírus mortal. Achou que aquilo dificultaria ainda mais o já não fácil contato.

O helicóptero partiu em meio a uma enorme onda de flashes de máquinas fotográficas e um mar de câmeras de jornalistas. Seus quinze minutos de fama. Um evento maior que as Olimpíadas, com certeza. Ele só era mais um a ter uma tentativa de contato, já que físicos, políticos, filósofos, antropólogos e todo um mar de estudiosos tinham desistido porque não conseguiam extrair nada das tantas perguntas que todos tinham nas semanas que passaram. Será que os visitantes eram hostis? Por que vieram? De onde vieram? Como vieram? Quem eram? O que queriam? Como sabiam que estávamos aqui? Sabiam que estávamos aqui?

Jonas sentia um certo enjôo de tentar pensar em algo, mas depois de semanas de angústia após saber que ele seria o próximo, finalmente a espera estava acabando. Mais alguns minutos e seria a grande hora de conhecer os extraterrestres. Um filme de ficção não retratou essa hipótese desse jeito. Até em “O Dia em que a Terra Parou” houve um contato mais rápido e efetivo, mas dessa vez parecia que não estava funcionando bem. De repente teve uma idéia. Será que era isso? Será que um contato estava sendo “desenvolvido” por parte deles e todas essas semanas que estavam aqui era uma espécie de estudo de como se comunicar conosco? Será que até os próprios extraterrestres estavam aprendendo como nos comunicávamos?

Chegando ao local uma escolta armada o conduziu para a entrada da nave, num túnel de plástico até a nave, que estava com a (podemos chamar de) porta fechada. Ao chegar perto, como das outras vezes o casco dela ficou transparente e uma passagem de sua altura apareceu. Tudo igual ao roteiro das vezes anteriores com as outras pessoas. Isso o deu certa segurança e um certo desânimo também, de poder ser mais um a não obter contato.

Algo parecia diferente. Dessa vez estavam com ele não três, como relatado, mas oito extraterrestres. Era difícil descrever como eram, porque não saberia identificar membros, cabeça e tronco. Tudo parecia se mexer e pulsar. Não sabia para onde olhar, pois não havia aquele “meio dos olhos” em que nos fixamos para uma conversa. Era como olhar um quadro de Pollock. Havia uma espécie de cadeira ali, mas sabia que era algo improvisado, pois não se parecia como partes da nave, que certamente estava viva. Tudo era uma espécie de caos organizado, interagindo entre tudo. Em meio a muitos pensamentos foi que Jonas sentiu a dor. A princípio uma enorme dor de cabeça, que o fez cair de joelhos com as mãos nas orelhas, gritando. Depois de alguns segundos, imediatamente passou, e percebeu que seus pensamentos já não eram mais os seus, se é que isso seria possível. Ele estava na mesma posição, de joelhos, mas dessa vez o visitante à sua frente pedia desculpas. Com telepatia, seus pensamentos o guiavam para o que os extraterrestres queriam que ele pensasse. Incrível, pensou por si mesmo. Eles ainda estavam desenvolvendo uma forma de comunicar conosco. Por isso a demora em se comunicar, entendeu por fim.

E então, sem falar nada, pensou: “Por que vocês estão aqui?” Um pensamento lhe veio à cabeça: “Queremos primeiramente paz. Não vimos destruir nem conquistar sua casa. Você está conseguindo receber essa mensagem?” Jonas instintivamente balançou a cabeça, concordando e imediatamente entendeu que deveria pensar que sim também. Foi o que fez. “Sim, estou. Como vocês fazem isso de se comunicar dentro de meus pensamentos?” E uma resposta não tão animadora lhe veio à cabeça: “É uma forma de energia ainda não explicada pelo seu povo. Vocês a possuem, pois todo o universo parece a possuir, mas não a controlam.”

“Meu Deus, o bóson de Higgs!” pensou ele. “A partícula de Deus!”.

“Podemos dizer que sim, mas não necessariamente o que vocês entendem atualmente por isso”, retrucou o visitante, fazendo com que Jonas ficasse envergonhado, já que pensou sem querer nisso e sabia que tudo o que passasse em sua cabeça seria “lido” por eles.

“O que querem aqui? O que devemos fazer por vocês?”

“Queremos transmitir um pensamento, uma forma com que vocês entendam para onde precisam caminhar. Tomar um outro rumo com que vem fazendo até hoje. Vocês não estão sós. Mais povos existem e estamos aqui para lhe ensinar uma doutrina.”

“Doutrina? Uma religião?”

“Podemos dizer que seria uma troca de valores. Temos alguns pensamentos para fazer com que vocês assumam o desenvolvimento humano. Com isso será possível um reencontro conosco e com mais seres. Deixaremos tudo aqui, nesse dispositivo, e qualquer um que o tocar poderá absorver esses pensamentos. Nesses estão programados as respostas de como vocês poderão caminhar daqui para frente”

“Incrível. Teremos a chance de descobrir a verdade por trás das perguntas mais básicas de nossa existência, como a origem da vida?”

“Sim, porém receio que não será algo tão novo, já que vocês souberam parcialmente isso tempos atrás e aparentemente não tiveram vontade de praticar da maneira correta.”

“Um momento! Vocês já fizeram contato conosco antes?”

“Nós não, mas a mensagem passada anteriormente foi a mesma que agora estamos transmitindo, só que dessa vez esperamos que nosso registro seja seguido. A mensagem é universal e só com ela é possível transcender para uma nova realidade, e ao puro conhecimento do todo.”

“E que mensagem é essa? Posso ter ao menos uma ideia?”

“Uma ideia de conjunto”

“Gödel? Von Neumann?” Pensou Jonas prontamente, mais uma vez sem querer pensar com sua mente matemática, se referindo à teoria dos conjuntos do matemático-filósofo Kurt Gödel e do matemático Von Neumann.

“Nesse sentido, só que com pessoas.”

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