Esse artigo não contém spoiler. Terminei o livro "A Guerra dos Tronos", em que mais uma vez odiei o nome "traduzido"em português, pois em inglês é A Game of Thrones, ou O Jogo dos Tronos, o que faria muito mais sentido. Esse livro, narra uma estória de fantasia, contado de uma maneira brilhante pelo americano George R. R. Martin, que até no nome se "parece" (por pura coincidência) com John R. R. Tolkien. A obra de Martin se difere em muito à do O Senhor dos Anéis, embora inegavelmente carrega suas "homenagens", por assim dizer. Tolkien, ao escrever O Senhor dos Anéis, procurou contar uma história realmente fantasiosa, em um mundo fantástico em que criaturas não humanas existiam, onde a magia era tema central, e havia uma delimitação bem clara entre o bem e o mal. Já Martin em A Guerra dos Tronos narra uma estória de fantasia mais "real", se é que isso seja possível de se dizer, e o bem e o mal coexistem dentro de cada um.
Embora contenha dragões, invernos com duração de 10 anos e magia, Martin procura revelar a estória nua e crua, ou a vida como ela é. A narrativa é muito mais pesada que a de Tolkien, e no que se refere a Martin ser "o novo Tolkien americano", discordo. Embora o livro de Martin conta com elementos de O Senhor dos Anéis, e partilha do mesmo tema, o objetivo aqui é outro. Martin se parece mais com um ativista político, narrando os Sete Reinos com cada governante querendo defender o seu lado, e no meio disso tudo alguém com princípios tendo que conviver com toda essa sujeira. O autor se inspirou no Wars of the Roses, guerra que existiu para conquista do trono inglês, entre 1455 e 1485.
Martin não deixa nada subentendido. É sangue, sexo, palavrões e incesto comendo solto. É verdade que ele escreve bem, mas se tudo isso é realmente necessário não cabe a mim julgar. Particularmente, acredito que o autor coloca cada uma dessas coisas na medida certa para apresentar um mundo igual ao nosso, com espadas no lugar de armas químicas (inventadas) ou terroristas. Existem também referências ao governo americano, cujo rei pode inventar suas verdades a qualquer momento, lembrando muito Sadam Hussein e Bin Laden supostamente mortos (e como diria quem lê gibis, sem corpo não há morte, certo?). Cada personagem é contado com detalhes, e existem motivos para seus comportamentos, sendo bem amarrados com a estória em si, diferente de Harry Potter onde o mal é mal porque sim (e aquele Eragorn me parece ser bobo também). Nesse "jogo"dos tronos, a ambição de cada reino é mostrada sem pudor, e talvez isso não agrade alguns, mas a ideia de Martin é um mundo medieval como o mundo medieval era: sujo, lascivo e negro. Com a promessa da casa dos Stark de "o inverno está chegando", o autor vai introduzindo a estória e todos os nomes, reinos e tramas, com a iminência de um inverno rigoroso pela frente e uma possível guerra a caminho (em que o nome em português faz o favor de estragar logo no título).
Também está saindo no Brasil pelo canal HBO a série do primeiro livro, em 10 capítulos de uma hora cada, que narra, embora apressadamente, todo o conteúdo fiel da primeira obra de Martin. O seriado é muito bem feito, acompanhado pelo próprio autor, com orçamento de 60 milhões de dólares só para a primeira temporada. Já foi fechado a segunda temporada, que contará o segundo livro, A Clash of Kings, que colocaram o "belo"nome de A Fúria dos Reis.
Meu descontentamento com títulos "traduzidos" é tamanha que só estou lendo em português porque ganhei. O título em inglês faz muito mais sentido e explico: O nome é parte de um diálogo da rainha Cersei com Edaard Stark, mão do rei, que para mim é um dos diálogos mais interessantes da obra: "Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou morre. Não existe meio-termo."
3 comentários:
Cara, sinceramente seu descontentamento com a tradução de Game of Thrones para Jogo dos Tronos não faz nenhum sentido. E sua explicação também não. Afinal, a frase continua lá, nas duas versões com o mesmo significado. Não se perdeu nenhum conhecimento com isso. Entendi seu repúdio quando traduziram The Physician para O Físico, mas aqui parece que você está reclamando só para não perder o costume. :)
Cara, o livro trata de uma espécie de guerra fria. Não existem batalhas detalhadas. Ele mostra todo o preparativo da batalha e no parágrafo seguinte só conta como foi. O nome "jogo" faz muito mais sentido porque é uma politicagem a tal "guerra" e o título em português dá a entender que é militar, mas na verdade é política, como o nome em inglês diz.
Não reclamei das traduções dos nomes de cidades, de armas e até de apelidos, porque acho que faz sentido, inclusive foi usado nos livros de Tolkien dessa forma. Agora o título não faz o menor sentido trocar jogo por guerra. Acaso o tradutor se julgou melhor que o autor para escolher esse nome? Ou será que o pessoal aqui do Brasil não entenderia a palavra jogo, e teve que ser adaptada? Ou então a palavra game não tem tradução direta? Não. Nada faz sentido essa troca, somente o saudosismo do tradutor.
Mais uma coisa que fiquei sabendo depois desse post. A tradução brasileira não foi bem feita, de acordo com o blog do próprio tradutor: http://lampadamagica.blogspot.com/2010/08/sobre-traducao-de-martin-no-brasil-o.html
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