Há alguma discussão se a humanidade está realmente ficando mais inteligente ou se está emburrecendo. Comentei um pouco disso em meus últimos posts, acredito. Até hoje ficamos imaginando como foi possível que o mundo antigo desenvolveu tantas coisas com a tecnologia da época, como as pirâmides, por exemplo. Nesse mês um indiano chamado Vinay Deolalikar, de 39 anos, cientista pesquisador da HP em Palo Alto, Califórnia tentou resolver um dos chamados “problemas do milênio” , e publicou um paper com uma possível solução para o famoso problema P = NP? Esse “simples” problema levou ao Clay Mathematics Institute de Cambridge, Massachussets, a oferecer um milhão de dólares para uma solução sólida a cada problema. Existem sete (olha o sete aí de novo) desses “problemas do milênio”, devidamente recompensáveis em sua solução perfeita, e me chamou a atenção o fato de um deles ser de fato resolvido perfeitamente por um russo (da foto) chamado Grigori Perelman, que recusou o prêmio de um milhão do instituto.
É difícil imaginar o que esses problemas podem influenciar nosso dia a dia, mas a verdade é que a solução deles podem sim mudar completamente a ciência e consequentemente nosso dia a dia. No problema P versus NP é determinado quais problemas podem ser resolvidos pelos computadores e quais não podem. Os problemas P (Polinomial) são “fáceis” para os computadores resolverem, ou seja, a solução para esses problemas podem ser computados em um razoável espaço de tempo comparado à complexidade do problema. Enquanto que para os problemas NP (Não Polinomial) uma solução pode ser muito difícil de ser encontrada, mas facilmente comprovada após ser encontrada. Por exemplo, imagine um quebra-cabeças. É muito difícil chegar a um encaixe das peças na ordem certa, mas o resultado após realizado é facilmente comprovado se está certo ou não apenas olhando para o desenho do quebra-cabeças montado. A classe de problemas NP incluem muitos problemas de interesses práticos, como por exemplo determinar a correta otimização de transistores em um chip de silício, desenvolvimento de modelos de previsão financeira precisos, análise de comportamento proteico na célula, fatoração de grandes números compostos que formam a base da criptografia e por aí vai. Então, se P for igual a NP, todo problema NP conteria um atalho escondido que permitiria aos computadores encontrarem rapidamente uma solução para eles. Porém, se P for diferente de NP, então nenhum atalho existe, e a habilidade dos computadores em resolver problemas seriam fundamentalmente e permanentemente limitadas. Até agora ninguém provou se P é igual NP ou se P é diferente de NP.
Voltemos aos cientistas citados acima. Um, pesquisador da HP, tenta uma prova, que aparentemente já foi analisada por alguns pesquisadores e dada como fundamentalmente falha . O outro, um russo “maluco” que vive num pequeno apartamento com sua mãe em São Petersburgo, Rússia. Perelman (o russo “maluco” da foto) resolveu um dos problemas do milênio chamado conjectura de Poincaré, sobre geometria em três dimensões (topologia). Quando lhe ofereceram então o prêmio, ele disse que “obrigado, mas não é necessário”. Como assim? Um milhão (ma oiê!) e o camarada recusa? Pois foi assim e inclusive gerou até um livro de Masha Gessen chamado “Perfect Rigor: A Genius and the Mathematical Breakthrough of the Century”.
O que move as pessoas hoje em dia? O olho no prêmio ou a solução do problema? Por que o único que resolveu um dos problemas foi também aparentemente o único que não estava interessado no valor pago? Teria alguma relação o valor pago a motivar o verdadeiro talento pelo sentido errado e então fechar de fato as possibilidades reais ou será que quem pode resolver esses problemas não dá a mínima para o modelo de sociedade que vivemos hoje em dia?
De tudo que somos hoje, parece até que demos um enorme salto em relação ao povo antigo. Isso pode parecer verdadeiro se compararmos talvez a Idade Média com os dias atuais, mas não parece ser verdadeiro se compararmos com os Babilônios, Persas e Árabes antigos (para citar alguns) que fundamentaram a matemática, onde antes não havia nada proposto, nem internet para lermos algumas bases de apoio (o que será que continha na biblioteca de Alexandria?). E se a humanidade mudar o foco? Já pensou se em vez de dinheiro a motivação fosse o conhecimento? Já imaginou o quanto ganharíamos quando as pessoas recompensassem os trabalhos inúteis atuais removendo a pessoa desse trabalho e colocando-a para estudar? Um ascensorista poderia facilmente ser dispensado de seu trabalho e receber seu mesmo salário para estudar, e quem sabe produzir algum conhecimento útil, já que seu trabalho inútil não serve em nada a humanidade, como diz Domenico Di Masi em seu "O Ócio Criativo". A pergunta para uma resposta 42 pode estar ainda escondida dentro do planeta Terra, em meio aos circuitos humanos, esperando para ser revelada. Talvez o problema do mundo moderno seja a incompreensão dos motivadores para a felicidade, que não penso ser o par dinheiro + poder, mas o conhecimento.