sábado, 24 de julho de 2010

Estupidez

"Vamos celebrar a estupidez humana, a estupidez de todas as nações (...) Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão (...) Vamos comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado. Todos os mortos nas estradas e os mortos por falta de hospitais (...) Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos..."

Renato Russo dizia que escrevia letras com sentido amplo, não querendo significar algo muito específico, e fazer as pessoas pensarem, com frases que poderiam acomodar-se em determinada situação particular da vida de cada um. Acima, trechos da música "Perfeição" do CD "O Descobrimento do Brasil".

No final, a entonação muda, Renato Russo começa a cantar o oposto da ironia anterior:

"Venha! Meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa. Só a verdade me liberta. Chega de maldade e ilusão. Venha! O amor tem sempre a porta aberta. E vem chegando a primavera. Nosso futuro recomeça. Venha! Que o que vem é Perfeição!..."

Mudo para o livro (que terminei de ler recentemente) Out of the Silent Planet, de C. S. Lewis. Uma ficção científica de uma viagem a um planeta chamado Malacandra, e os seres que lá habitam, governados por Maleldil, Deus. Também o tema de ignorância da raça humana é discutido, e após algumas perguntas do motivo que agimos da maneira que agimos (no capítulo 20, já no fim, que me valeu a leitura), mesmo a questão feita para total descrente de qualquer forma de divindade, sendo este um cientista, a resposta final é um silêncio. O cientista diz "A vida é maior que qualquer sistema de moralidade. O que ela reivindica são absolutos. Não é por tabus tribais e máximas de livros copiados que ela persegue sua implacável marcha da ameba até o homem e do homem para a civilização." As perguntas então são feitas como: Com o que você se importa? Com o homem? Com a forma humana? Com a mente? Se fosse com o homem, não deveria você se importar com todo homem? Se fosse com a forma humana, essa forma não muda na evolução? Se fosse a mente, não deveria ser a mente de todos os homens, ou de toda a raça humana? Chegam então a uma conclusão que não é a criatura completa o objetivo do homem moderno, mas da semente da vida. Porém uma das coisas mais importantes para o homem é não temer a morte. Medo este que traz assassinato e rebelião. "If you were subjects of Maleldil you wold have peace" (Se vocês fossem subordinados de Meleldil [Deus] vocês teriam paz).

"Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio." Rm. 7:15

Ainda ontem li um trecho de Moby Dick:

"Quando os botes a circundaram mais de perto, toda a sua porção superior, grande parte da qual em geral fica submersa, estava bem visível. Seus olhos, ou melhor, os lugares onde antes estavam, podiam ser vistos. Do mesmo modo que substâncias estranhas crescem nos olhos dos nós dos carvalhos mais nobres, quando derrubados, assim também nos lugares onde os olhos da baleia haviam estado saíam bulbos cegos, uma comiseração horrível de ser vista. Mas não havia clemência. Apesar de toda a sua idade, apesar da sua única barbatana e dos seus olhos cegos, ela devia morrer aquela morte horrível, assassinada para iluminar as núpcias alegres e outras festividades dos homens, e também para iluminar as igrejas solenes que pregam que todos devem ser incondicionalmente inofensivos uns para os outros."
Moby Dick, Herman Melville, ed. Cosac Naify, Pág 381

Não comento mais nada. Só quero meditar um pouco nisso.

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