O título do excelente filme acima não é uma tentativa de crítica do mesmo. O assunto aqui é outro, mas o título do filme veio bem a calhar. Estava discutindo com um amigo meu sobre o mundo da fantasia. Estávamos falando que gostamos muito desse gênero e ele por ser cristão acaba sofrendo algum tipo de preconceito de alguns membros da igreja mais “puritanos”, que acabam olhando aquilo como “obra do diabo” ou “paganismo”. Falando do mundo da fantasia, nem preciso ir muito longe para falar sobre a inegável influência de C.S.Lewis no cristianismo moderno, sendo um dos autores mais influentes do século passado. Esse grande autor escreveu “As Crônicas de Nárnia”, uma obra considerada por muitos um clássico da fantasia, comparada com Tolkien e “O Senhor dos Anéis”. Os dois eram muito amigos, vale dizer, e Tolkien acabou por trazer o amigo para o mundo cristão. Lewis era ateu e se converteu ao cristianismo por grande influência de Tolkien. Seus mundos fantásticos são cheios de influências cristãs. Confesso que não li Crônicas de Nárnia, mas li O Senhor dos Anéis. Uma obra singular no mundo fantástico da fantasia.
Agora vamos voltar ao mundo atual em que vivemos. Hoje vindo para o trabalho quis matar um motoboy a pauladas, bem devagar para que ele pudesse sofrer bastante antes de morrer. Depois fiquei pensando nos motivos que me levam a desejar isso. Muitas vezes falo que gostaria de comprar um Hummer para passar por cima de gente que pára em fila dupla ou que quer dar uma de esperto e furar a fila, o que mais se vê nas ruas. Por que será que penso nessas coisas? Como cristão eu não deveria amar o próximo? Ser gentil, cordial, bondoso?
No mundo da fantasia, as pessoas boas são sempre boas. Os maus são declaradamente maus. Normalmente isso é assim do começo ao fim. As personalidades não mudam muito seu caráter, e se mudam para pior é que ele sempre foi um mau enrustido. Se mudam para o bem, tinham o coração dominado pelo maligno e foram libertados. Aí começa um dilema na minha cabeça. No mundo atual, o bom nem sempre é bom e o mau nem sempre é mau. Todos somos bons e maus ao mesmo tempo. Tudo depende do contexto e dos motivos. Aí começo a entender um pouco a Graça Divina e por que ela acontece. Imagine se Deus fosse usar da justiça para julgar qualquer pessoa. Ninguém estaria salvo. Todos seriam mortos a pauladas para sofrer bastante. Aí veio Jesus Cristo e nos ensinou que a vida é assim, cheia de desgraças e maldades, mas nós deveríamos ser diferentes. Deveríamos olhar o mundo e as pessoas como se tivéssemos óculos divinos, e observássemos tudo com a ótica de Deus. Aí, perdoaríamos mais, amaríamos mais, riríamos mais, seríamos mais felizes, mesmo em meio ao caos. Quando pudermos entender que o mais importante é Deus e a vida eterna, poderemos desconectar um pouco de nossas preocupações diárias, com o futuro, com o mundo, com a política, com o luto. Jesus não disse aquela frase à toa: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” Mt. 11:29-30. Isso quer dizer que podemos sossegar com as preocupações da vida porque daqui nada se leva. Bem vale o livro de Eclesiastes da Bíblia. Se você ainda não o leu, faça isso. É excelente. Um bom local para ler é aqui. Uma das frases que gosto muito é “Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele.” É meu amigo, isso está lá na Bíblia.
Somos bons, somos maus, somos feios. Temos maus pensamentos a todo instante. O desafio é vencer isso a cada dia, a cada hora. Todos os dias devemos nos esforçar e morrer para com nossa vaidade e aceitar o fato que daqui nada se leva. Se julgo alguém, o faço não pelo que ele tem, mas o quanto ele doa. É assim que deve ser. É assim que luto para ser e me frustro a cada dia. “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.” Rm 7:19
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