O engraçado disso tudo é que apesar dessa divisão, a maioria das pessoas dão risada com uma boa piada, seja ela pastelão, inteligente ou de humor negro, principalmente se combinar esses três elementos. Se o contador da piada for bom ajuda bastante também. Contar piada é um dom. Não é para qualquer um. Tem gente até que antes de contar a piada já diz que ela não sabe contar e fica mais engraçado se fulano de tal contasse aquela piada. Você normalmente escuta por consideração, ou porque você tem a habilidade de contar a piada e pode usá-la do seu modo, enfim, mas normalmente não tem a menor graça. Você ri da cara da pessoa que se esborracha de rir. Aliás, quem não sabe contar piada normalmente ri de suas próprias piadas. Engraçado isso... E aqueles então que contam o fim da piada logo de cara, do tipo: “Conta aquela da loira que passa branquinho no monitor quando erra...” Meu filho, você acabou de estragar uma piada que já era uma porcaria.
Alguns tem o dom de contar “causos” pessoais que são muito engraçados. Meu tio por exemplo, corinthiano fanático, foi em plena decisão do campeonato (sim, faz tempo) obrigado a ir em uma festinha infantil. Que lindo, aquele bando de crianças alucinadas correndo e gritando e ele parecendo um drogado procurando uma TV onde pudesse ver o jogo que estava para começar. Achou que na sala da casa seria o melhor local, pois a criançada fazia a festa no quintal, e ali seria um oásis em pleno Saara, longe de todos. Ligou a TV e ficou ali torcendo. Jogo difícil e tal, e ele tenso, sem olhar para o lado. Eis que do mais completo nada surge uma menininha de uns quatro anos que entra quietinha, vê meu tio ali na sala e pára do lado dele. “Tio, o que cê tá fazendo?” E meu tio: “Vendo o jogo, querida”, já puto da vida que alguém o descobriu. Alguns segundos de silêncio depois a menininha: “Quem tá jogando, tio?” “O Corinthians, querida... Olha vá brincar lá fora, vai?” Nisso a menina fala: “Tá bom, então segura minha bala que não quero mais”. Meu tio simplesmente abre a mão e a menina deposita uma bala de menta completamente melada e babada na mão dele. Nisso, uma bola na trave é chutada pelo jogador corinthiano e meu tio leva a mão na testa, fazendo aquele famoso “puta que pariu...”. A bala gruda na testa e lá permanece, pois a tensão do jogo é tanta que ele nem percebe. Bem, daí cê já pode imaginar como foi quando alguém percebeu... O legal é ver ele contando. Eu passei mal de rir nesse dia. Meu tio sabe contar um caso. Uma coisa trágica fica muito engraçada.
Tenho um amigo que também tem esse dom. É impossível ficar perto dele por muito tempo sem rir. Ele é muito engraçado. Você provavelmente tem um amigo assim. Normalmente essas pessoas combinam os tipos de humor muito bem, e a coisa fica boa mesmo que não seja seu gênero preferido. O humor negro pode englobar várias coisas, como por exemplo Arnaldo Jabor. Seu humor é sarcástico, ácido e com muita ironia. Eu gosto muito dele porque afinal é o Arnaldo Jabor, mas confesso que não é meu gênero preferido. Apesar disso, ouço atentamente a cada um de seus comentários. Ele tem o dom. Faz quem não gosta de ironias gostar de seus textos.
O duro mesmo é aguentar gente chata que se acha engraçada. O humor pode se transformar em ódio rapidamente quando você chega naquela festa e lá vem o Osvaldão de novo, normalmente bêbado parecendo um siri andando de lado, com a latinha em uma “garra” e o cigarro na outra, contar aquela piada manjada... de novo! Isso é mais chato que dançar com a irmã na festa, vou confessar. Claro que Osvaldão é maneira de dizer, como poderia ser o Jorjão, o Marcão, o Paulão e por aí vai. Será que os “ãos” não sabem contar piada? Deveria existir um curso para esse tipo. “Aprenda a contar piada em duas semanas”. Ou então: “Livre-se do vício de querer sempre contar a piada que você já contou”. Ah, seria bom...
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