segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Duna

Dez mil anos após a grande guerra Butlerian Jihad que eliminou todos os computadores pensantes do Universo, que ocorreu há onze mil anos de nossa data, começa a história de Duna. Então, lá para o ano 21.000 a humanidade colonizou diversos planetas e um grande Império surgiu (mas não é aquele império que você conhece, porque Duna foi escrito em 1965, e, portanto, antes de Star Wars). Esse império, controlado então por um Imperador, mantém o poder distribuído em casas aristocráticas que respondem a ele, divididas nas Casa dos Atreides, Casa dos Harkonnens e Casa dos Corrinos. A estória de ficção científica de Duna é mais geopolítica do que tecnológica, e é aí que esse excepcional livro conta com alegorias para um possível futuro da humanidade, que viveria então num feudo.

Frank Herbert, o autor, disse quando vivo que se baseou em alegorias para recriar seu universo, onde teríamos a briga por um produto, que no caso do livro se chama Melange (ou especiaria), que podemos fazer um paralelo com o petróleo, em um planeta deserto, que podemos visualizar o Oriente Médio, e um povo rebelde chamado de Fremen, que podemos comparar com os árabes, talvez (pois o personagem principal do livro pode ser comparado a T.E. Lawrense e sua ligação com o povo árabe na revolta contra os Turcos Otomanos em 1916, rendendo até um filme, Lawrense da Arábia). Nesse complicado enredo, começa uma história rica em detalhes de como a humanidade evoluiu.

Como mencionei acima, existiu uma guerra, em que a humanidade venceu os computadores, que em dado momento no futuro tomaram consciência e se rebelaram contra nós. Após a eliminação dessas máquinas pensantes, instituiu-se uma ordem religiosa, e uma nova Bíblia, chamada de Bíblia Católica Laranja (O. C. Bible) que compilava assim vários pensamentos de várias religiões ali então resumidas. Num desses versículos-mandamento, existia um que dizia “Vós não deveis produzir uma máquina tal qual a mente humana.” [1], numa tradução livre. Por isso a partir daquele ponto evoluiu-se com tecnologia genética (e tecnologia não-pensante), para produzir seres humanos aptos a determinadas áreas, como por exemplo os Mentat, que eram pessoas com habilidades incríveis de cálculos, substituindo assim os computadores, que traçavam rotas para viagens espaciais. E várias ordens surgiram, como por exemplo as Bene Gesserit, que era uma irmandade de mulheres-bruxas com poderes mentais que procuravam há mil anos um messias, fazendo conexões genéticas com casamentos arranjados. Esse messias iria ter um poder mental enorme, podendo num ritual de passagem ingerir uma quantidade grande de veneno, remover esse veneno do seu corpo e assim se conectar com memórias ancestrais de todas as Bene Gesserit e ainda ter precognição. Dentro desses detalhes, Duna vai evoluindo e prendendo cada vez mais a atenção, fazendo com que você não encontre paralelo em nenhuma obra anterior a ela e influenciando um monte de filmes e livros a partir dela. O interesse do livro é uma geopolítica futurística que deixa um pouco de lado as explicações científicas, como vemos nos livros do Asimov por exemplo, puxando para questões mais filosóficas. Quem controlava esse melange, que seria o bem mais importante do universo, controlava então todo o universo por consequência. O melange, substância que só existe no planeta Arrakis (conhecido como Duna pelos seus desertos), era controlado pela Casa dos Harkonnen que lá estavam há tempos, determinado assim pelo imperador. O melange era produzido pelos excrementos de um verme de quatrocentos metros que vagava pelos desertos de Duna, temido por todos, fazendo com que a extração da especiaria fosse bem difícil e arriscada. Essa especiaria quando consumida dava alguns poderes especiais, e o mais importante deles era a pré-cognição, permitindo assim viagens espaciais distantes, o que movimentava toda uma economia no universo.

O feudo rival dos Harkonnens, chamado de Casa dos Atreides começava a ganhar poder e influência, comandada pelo Duque Leto. O imperador então troca de poderes e manda a Casa dos Atreides dominar Duna e a retirada da Casa dos Harkonnens de lá, que já tinham ganhado um bom poder com a exploração, para balancear um pouco os poderes no universo entre as casas aristocráticas. Só que as coisas não foram tão simples assim e uma armadilha esperava os Atreides em Duna. A companheira de Duque Leto, Jéssica, que é uma Bene Gesserit, treina seu filho Paul (filho do Duque) com todo o treinamento proibido dessa irmandade de mulheres, e aí a coisa fica interessante. Paul tem algumas visões do futuro, e ligado ao fato que Jéssica deveria ter tido uma menina e essa menina poderia ter gerado o esperado messias segundo as Bene Gesserit, Paul começa a dar indícios de ser ele o próprio messias. No planeta Duna, o povo que lá vive, os Fremen, espera a chegada de um messias, que os libertaria da dominação das casas aristocráticas e transformaria Duna em um planeta com água abundante, já que lá a água é um artigo raríssimo. Inclusive quando uma pessoa da tribo dos Fremen (os nativos de Duna) morre a água do seu corpo é retirada e filtrada, e devolvida para a tribo para consumo. As pessoas andam em trajes que não deixam nenhuma umidade sair do corpo (os stillsuits), filtrando suor, urina (e fezes), retornando num processo límpido para que a pessoa beba (isso é nojento, eu sei, mas o processo é muito bom, parecido com a Sabesp que filtra a merda da represa Billings, só que tudo dentro de uma roupa).

Os detalhes dessa trama são bem complexos e tornam Duna um clássico. Frank Herbert escreveu seis livros de Duna antes de morrer, e o filho dele continuou o trabalho com mais treze livros. A história fecha completamente no primeiro livro, mas agora quero ler os demais porque me empolguei muito com a obra.

Sem querer deixar spoilers aqui, só posso dizer que Duna é leitura obrigatória para quem gosta de ficção científica, sendo uma alegoria do mundo atual e no que poderemos nos tornar.

[1] “Thou shalt not make a machine in the likeness of a human mind.”

Links de referência (contém spoilers):
Jovem Nerd: http://jovemnerd.ig.com.br/nerdcast/nerdcast-227-as-dunas-de-duna/
Wiki: http://en.wikipedia.org/wiki/Dune_universe

Um comentário:

Cristiano Silva disse...

Já dei uma lida sobre o autor (sua visão de mundo) e já encomendei a minha edição capa dura ;-)

Espero que goste tanto quanto você.

Obs.: Eu assisti o filme Duna e o seriado Messias de Duna e Filhos de Duna feitos pelo canal Sci-Fy. O filme é de David Lynch, e não acho tão ruim; só meio limitado tecnicamente/visualmente. Os seriados achei meio chatos e confusos, mas creio que foi culpa da produção mesmo.

God bless.