Estava conversando com uma amiga durante um jantar sobre seu irmão, que era totalmente atípico do “padrão” do cidadão comum. O menino não gostava da escola, desde sempre, e não se encaixava no padrão da sociedade como conhecemos. Ele, apesar disso, tinha uma veia artística muito forte. Desde pequeno seus presentes frequentes eram papel e giz de cera. Nas provas de geografia ele entregava as questões em branco, mas havia na prova muitos desenhos. Vale lembrar que uma dessas provas em questão era com consulta. A primeira impressão que teríamos seria de um alienado, um limítrofe ou qualquer adjetivo pejorativo, pois esse elemento (ou mau elemento) não se enquadra na nossa sociedade.
Analisando o “caso” na mesa do jantar pude constatar que ele realmente não seguirá os padrões há muito solidificados, pois esse menino é um artista nato. Ele não usa nem a mesma metade do cérebro mais utilizada por nós. O artista é um ser incompreendido na sua “loucura”. As pessoas tentam convencer os artistas a seguirem o padrão natural das coisas. Principalmente os pais, que tentam encaminhar o filho para uma profissão conhecida, como medicina, engenharia, advocacia, e a nova moda: informática. O grande problema com isso é frustração mútua, pois o artista não consegue seguir esse tipo de burocracia e nem os pais conseguem fazer com que ele siga. De um lado temos pais frustrados perguntando “onde será que errei?” e de outro temos uma pessoa introspectiva, frustrada, deprimida. Não acredito que o caminho de todos seja igual. Alguns se destacam justamente por pensar diferente. Nas artes a coisa fica ainda mais complicada. A criatividade só é cultivada num ambiente sem burocracia. Onde há burocracia não há criatividade, como disse Domenico de Masi no seu ótimo livro “O Ócio Criativo”. Artistas no geral são difíceis de se adaptarem em nossa sociedade. São contra o sistema por natureza, e a razão é muito simples: A criatividade não se bica com a burocracia dos padrões. Uma pessoa com veia artística se aborrece com os estudos de coisas que achamos normais. Para o artista é tortura. Os professores em vez de esclarecerem aos pais o tipo de filho que eles possuem só reprimem a pessoa por não se encaixar. Isso vem desde sempre, e podemos verificar no cinema filmes de artistas incompreendidos, como Pollock por exemplo. Pollock desenvolveu em sua pintura alguns conceitos da teoria dos fractais e teoria do caos, isso dez anos antes da Teoria do Caos ser proposta. São pessoas que enxergam diferente da maioria. Não estúpidos, como são tratados muitas vezes, mas são diferentes e podem mudar todo um conceito. Para pessoas assim devem existir estímulos que o façam seguir em frente com sua arte e botar em prática suas idéias, ao invés de reprimir o padrão incompreendido. É uma pena que tenhamos tão despreparados professores que normalmente são os primeiros a observarem tais dons e também pais que não entendem o “monstrinho” que estão criando.
Existem hoje muitos cursos que podem dar ao artista asas para voar e ser muito bem sucedido nas áreas de propaganda, desenvolvendo modelos de animação, modelagem, concepts e um universo de trabalhos que o mercado carece. A indústria de games americana fatura mais que o cinema e existe uma briga por esses profissionais que desenham bem, fazem modelos 3D, concepts, animação e uma infinidade de trabalhos que só se adequam aos artistas. Essas pessoas que conseguem passar pela barreira dos pais e pela barreira da formação padrão, conseguem um grande sucesso e são muito bem remunerados, mesmo para o parão americano de salários. Aqui no Brasil temos muitas agências que buscam tais profissionais e sempre existem vagas abertas, pois a oferta é pequena frente a enorme demanda.
Voltando um pouco no livro de Domenico de Masi, ele indica que o futuro terá vagas abertas apenas para a criatividade. Pessoas metódicas acostumadas ao trabalho como conhecemos terão grandes chances de ficarem desempregadas num futuro próximo. Teríamos um apocalipse cultural e social então? Talvez um dia as pessoas olhem para os metódicos com o mesmo preconceito com que hoje olham o artista. Imagine você, quem daria emprego a alguém com um alargador na orelha? Imagine... continue imaginando, pois esta é a idéia de um futuro próximo.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
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