sexta-feira, 16 de março de 2012

Elevadores

Não sei se você tem o mesmo desconforto em pegar o elevador com outras pessoas como eu tenho. Primeiro que começo já no hall, lendo aquela infame placa “Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado no andar”. Quem será esse "Mesmo", meu Deus? Será um psicopata que fica aí parado no andar, te olhando? Bem, além da escrita equivocada do uso de "o mesmo" em substituição de um pronome [1], pegar o elevador é ainda mais estranho.

Não sei se é comum em outros locais, mas aqui em São Paulo ninguém cumprimenta ninguém, e normalmente pela manhã quando você ouve um "Bom Dia" no elevador já começa a rezar para não ter que responder à perguntas do tipo “será que vai chover?” ou “você viu o trânsito hoje?”. Não sei qual o intuito de tal conversa mole logo cedo, já que é óbvio que vai chover com esse céu preto e calor dos infernos e é mais óbvio o trânsito de hoje, já que a gente mora em Sampa, e até no parquinho tem trânsito no carrinho de bate-bate. Aliás, boletim de trânsito aqui é uma piada. Nunca ouvi a pessoa dando uma notícia boa, que em algum lugar está fluindo bem. Nunca. Boletim de trânsito aqui é mais inútil que o anjo da guarda dos Kennedy, porém algumas rádios ainda insistem. Após o “Bom Dia” e graças a Deus sem conversa mole, fico esperando meu andar chegar, com aquela cara de ursinho, meio-sorriso e olhar fixo, tentando disfarçar o fato que tem sempre um te encarando.

Quando estava trabalhando na empresa anterior, ficávamos no sexto andar, e havia uma empresa que alugou os andares dois, três e quatro. Era um tédio pegar o elevador. Toda vez que você chamava um dos seis elevadores, ele parava invariavelmente em todos os andares que a empresa tinha alugado. Ou era para a pessoa subir do segundo até o terceiro, ou o que é pior: descer um único andar. Não vou confirmar aqui o que ouvia “não é à toa que é gordo”, porque provavelmente vão me acusar de preconceito também, e não tenho nada contra o peso da pessoa. Mas era tudo gordo mesmo. Pronto. Falei.

Elevadores são muitas vezes confundidos com coração de mãe. Abre a porta, tem sempre uma tia perfumada (de manhã) que fala “ah, cabe mais um né?” Lógico que não cabe. Espera a porcaria do próximo elevador. Tá todo mundo se esbarrando aqui nessa joça metálica, será que você não está vendo? Agora uma coisa muito estranha mesmo é quando a pessoa entra (mesmo cheio) e puxa um desses assuntos para querer saber da sua vida, e quando chega o andar dela,  esta continua com a conversa mole, contando de um primo que foi mordido por um escorpião rei em Pindamonhangaba, e fica segurando a porta, terminando a conversa chata e desnecessária. O pessoal te olhando feio, achando que você conhece a tia (que nunca viu mais gorda, opa, falei de novo), e a tia que não se manca. Gente, 1) Não quero saber do seu primo; 2) Não te conheço; 3) Não me importo. Solta a porcaria da porta!

No prédio em que moro tem um tiozinho mais chato que pisar na merda descalço. Todo santo dia que o encontro ele faz as mesmas perguntas, querendo investigar minha vida, onde trabalho, que horas que entro e saio, de onde eu sou, etc. Além do saco de responder às mesmas perguntas, que a cada dia respondo uma coisa diferente pra variar um pouco, ele ainda entra com um cachorro que fica latindo sem parar. Sério, para chegar até o décimo andar parece que leva um mês. E sempre dou a sorte de pegar elevador com ele quando chego cansado do trabalho (e de ônibus).

Hoje em dia os elevadores possuem um monitor que passam notícias, embora normalmente inúteis mas tudo bem, porém a coisa só piorou. Além dos comentários de “será que vai chover”, ainda temos que sorrir para os comentários “Você viu que a Val falou que num homem a gente olha para o relógio e para o sapato?”. É muito desanimador.



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[1] Não é errado a frase acima “do mesmo”, porém é ridícula. Só tome cuidado com o preconceito linguístico. Dêxa o povo falá do jeito qui gostcha, oxe.