terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MIT oferecerá cursos de graça

Boa notícia para quem quer estudar de graça e sem sair de casa. O MIT (Massachusetts Institute of Technology) criou no dia 19 de Dezembro de 2011 um programa chamado MITx que pretende “oferecer um portfolio de cursos do MIT através de uma plataforma de aprendizado interativo online que vai:

  • Organizar e apresentar o material do curso para habilitar o estudante a aprender no seu próprio ritmo;
  • Característica Interativa, laboratórios online e comunicação estudante para estudante;
  • Avaliação individual para todo trabalho do estudante, permitindo a estes que demonstrarem domínio sobre o assunto receberem um certificado concedido pelo MITx;
  • Operar uma estrutura de software open-source com objetivo de prover melhoria contínua e alta disponibilidade para outras instituições de ensino”.

Ótimo para os que pretendem aprender mais sobre tecnologia. Além de poder estudar de graça, em casa, no seu próprio tempo livre, ainda poderá receber um certificado, parte importante no currículo. Outros cursos gratuítos são oferecidos através da internet, como muitos cursos de Stanford, e outros no iTunes University, mas esse do MIT é o primeiro a dar um certificado. Infelizmente tudo está em inglês.
 
Mais um passo à modernidade, onde o espaço físico não é mais estritamente necessário para a formação educacional de uma pessoa. Aliás, esse conceito de trabalho em casa também está engatinhando para virar moda nas empresas (será mesmo?), e muitas aqui no Brasil já adotaram pelo menos um dia da semana em que o funcionário pode trabalhar em sua casa, acessando a empresa remotamente.

Sobre o MIT, o certificado oferecido não tem valor de um diploma de graduação (degree), mas tem o valor de você ter participado e se sobressaído no curso. Os cursos não terão vestibular para entrar, e serão oferecidos a todos, em qualquer local do mundo com acesso à internet. O curso será gratuíto, mas na página do MITx existe uma ressalva que será cobrada uma taxa (não se sabe de quanto) para o certificado, mas pelo menos diz ser uma taxa “modesta”.

Vale dizer que esses cursos estarão disponíveis na primavera americana, ou seja, a partir do dia 20 de Março de 2012, e por isso fique ligado e se matricule quando disponível! Vou entrar na página do MIT News semanalmente para saber quando poderei fazer minha inscrição no MIT OpenCourseWare

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O Bóson de Higgs

Eu juro que tentei, mas não consegui escrever um post decente sobre o Bóson de Higgs, já aviso. O assunto é tão complicado que o texto ficaria interminável se fosse explicar com detalhes reais. Não existe uma analogia visual que satisfaça a complexidade da mecânica quântica, e mesmo porque a base é toda matemática e, portanto, abstrata. Só queria reportar que dia 13 de Dezembro de 2011 o CERN (Organização Européia para Pesquisas Nucleares) anunciou “sugestões tentadoras” para a existência do Bóson de Higgs, um grande avanço para a física. Após escrever o texto, feliz da vida, pedi ajuda a um amigo para que colocasse seus comentários e correções. As correções foram tantas que não conseguiria preservar quase nada do original. Justamente porque, além de algumas correções, as analogias não demonstram a realidade do que acontece no mundo subatômico. As leis de lá não são as mesmas leis daqui, e não é nada fácil ou simples tentar simplificar. De teimoso, dando uma de Brian Greene (o marketeiro físico), vou tentar escrever algo que minha imaginação doida entende por Bóson de Higgs, e com a ajuda de um amigo e da Wikipedia vou fazer uma tentativa. Que me perdoem os físicos (e meu amigo). Aliás, Márcio fica aqui meu muito obrigado! Coloquei seus comentários no final do texto. 

Primeiramente vamos entender o que é esse tal de Bóson de Higgs. Que diabos é bóson e quem é o Sr. Higgs

Você deve ter aprendido na escola em algum momento da sua vida que existem coisinhas ridículamente pequenas que compõem tudo que existe, chamadas átomos. Pois bem, o átomo como lhe foi explicado na escola, é a unidade básica de matéria que consiste em um núcleo denso cercado de uma nuvem de elétrons de carga negativa, que ficam "girando" em uma espécie de órbita (o melhor seria estado) em volta do núcleo, atraídos pela força eletromagnética. Isso é um modelo clássico “visual” um tanto errôneo no mundo atual, mas foi proposto por Ernest Rutherford em 1911 e usei aqui para que possamos entender melhor. Saiba que na mecânica quântica isso é bem mais complexo e bem diferente, corrigido posteriormente por Niels Bohr. Mas, vamos seguir adiante com nosso modelo visual clássico. 

Um grupo desses átomos, quando associados uns com os outros podem formar moléculas. Uma molécula seria um grupo eletricamente neutro de dois ou mais átomos que compartilham seus elétrons. Uma analogia boba seria uma criança (núcleo) que se une com outra criança (outro núcleo) dividindo seus brinquedos (elétrons), formando assim uma molécula de bagunça (revira na tumba, Rutherford!). Essas moléculas, quando juntas com outras moléculas formam toda a matéria que conhecemos, com ligações químicas. 

Voltando ao átomo, seu núcleo é composto por basicamente dois elementos: Os Prótons e os Nêutrons, e um átomo é classificado de acordo com o número de prótons e nêutrons em seu núcleo. O número de prótons determina o elemento químico (número atômico na tabela periódica) e o número de nêutrons determina o isótopo do elemento. Esses caras do núcleo também são divisíveis, contendo mais detalhes em sua formação. Um próton tem carga elétrica positiva com valor igual a 1, e é composto por quarks (o elétron tem carga negativa, e o nêtron é, olha só, neutro). Quarks são os tijolos (que analogia péssima, mas não consegui pensar em outra) que compõem a estrutura do próton. Um próton é composto por dois up-quarks e um down-quark que são mantidos unidos pela força nuclear forte, e dessa forma ele também é considerado um Hádron, ou seja, “composto de quarks”, mais especificamente um Bárion, ou seja, aquele que é composto de três quarks (chupa essa manga). Enfim, a galera que viaja na maionese vai dando nomes pra essas coisas de acordo com a classificação que encontram. 

Esse up ou down do quark acima é o tipo de “spin”, que seria algo como a tendência de continuar "girando" a uma taxa em particular (chamado na indecifrável wikipedia de “angular momentum”). “Usar momento angular é só um jeito que os humanos acharam para tentar fazer uma coisa impenetrável, até o momento, para a mente humana familiar” - Valeu Márcio! [1], e possuem valores de spin fracionados (1/2). Existem seis tipos de quarks: up, down, strange, charm, botton e top. E não, o quark do tipo charm não é uma jóia da Pandora, pelamor... Então existem 16 partículas fundamentais que constroem um átomo, sendo 12 partículas de matéria e 4 partículas portadoras de força (as quatro forças fundamentais, mas podendo ainda ter mais duas que relato em breve). 

O bóson, segundo a wikipedia, tem essa explicação: “Bósons são partículas subatômicas que obedecem as estatísticas Bose-Einstein [3].” Se você clicar no link acima para saber o que seria uma estatística Bose-Einstein, vai se deparar com “Na mecânica estatística (?) a estatística Bose-Einstein determina a distribuição estatística de bósons indistinguivelmente idênticos (?) sobre um estado de energia em equilíbrio térmico (?)”. É de fazer qualquer um desejar tomar um copo de veneno. Um bóson [2] seria um portador de força, que possuem spin inteiro (diferente do próton acima) e algumas outras características, como podendo ocupar o mesmo ponto no espaço ao mesmo tempo (como o fóton). Existem quatro forças fundamentais no Universo: o eletromagnetismo, a gravidade e as forças nucleares forte e fraca. Essas forças são na verdade a perturbação de campo (não confundir com o jogador Danilo do Corinthians, que também é uma perturbação em campo), e são medidas pela iteração dos bósons entre as partículas (no caso, os bósons chamados bósons gauge. Um exemplo de bóson seria o fóton, ou a patícula de luz (que não tem massa). Porém nem toda forma de energia é sem massa [4], como por exemplo as forças dos bósons W e Z que possuem 100 vezes a massa do próton. Os bósons podem ser elementares, como os fótons, ou compostos, como os mesons e por aí vai.

No Modelo Padrão da física existem seis tipos de bósons (quatro devidamente provados e dois teóricos), e o Bóson de Higgs é um desses dois que não foi provado ainda (o gráviton também não deu as caras por enquanto). O Modelo Padrão é um modelo teórico desenvolvido ao longo de anos pelos físicos de todo o mundo que nos dá a estrutura básica do nosso entendimento das partículas fundamentais da natureza (aquelas 16 partículas que disse acima mais algumas outras teorias). Um dos ingredientes desse modelo padrão é um campo hipotético que explica porque as partículas tem massa (entre outras coisas). Esse campo hipotético, onipresente, é chamado Campo de Higgs, do físico britânico Peter Higgs (hoje com 82 anos), que publicou lá na década de 60 alguns trabalhos sobre essa teoria, e tenta explicar por que é que as partículas tem massa, pois quando analisadas separadamente, essas partículas não tem massa nenhuma (veja a observação número [4] abaixo). 



Então existe algo que dá “materialidade” à matéria. Esse algo é chamado de Bóson de Higgs (uma força), que tem massa, ficando esta na casa dos 130 GeV (giga-eletrovolts), e por isso a necessidade do LHC existir, por possuir energia suficiente para tornar possível pesquisar essa faixa. E a maioria das partículas que interagem com o Bóson de Higgs ganha, portanto, massa (outras não, e ninguém sabe o por quê). 

Ufa, depois dessa coisa toda, por que é que esse bóson é tão importante assim? Porque esse cara, se provado existente, o Modelo Padrão fica um pouco mais completo [5]. Se entendermos as leis da natureza, poderemos focar nossas teorias (que existem muitas além do Bóson de Higgs, como a Supersimetria, ou a Quebra da Simetria Dinâmica) em um só local que provou-se certo, esquecendo as outras. Focando os esforços e experimentos, podemos descobrir mais a fundo outras partículas ou forças e seu funcionamento (como a dona Gravidade, que ninguém consegue explicar). Em 1993 o Ministro de Ciências britânico William Waldegrave lançou um desafio aos físicos para explicarem em apenas uma página o que é o Bóson de Higgs e por que eles estão tão ansiosos em descobri-lo. Os vencedores do desafio podem ser conferidos aqui. Com esse avanço na física provando a existência do Bóson de Higgs, quem sabe um dia poderemos entender melhor as partículas, e com isso tornar possível viagens intergaláticas, usando motores movidos a antimatéria. Aí só faltaria saudarmos uns aos outros com a frase “tenha uma vida longa e próspera”. [6] 



-------

[1] O eletron é infinitesimal (não tem dimensão). Apesar do termo "spin", electron não gira. Isso é só uma forma de tentar usar um modelo clássico para satisfazer a necessidade humana de intuir coisas. 


[2] A diferença entre um bóson e um férmion (a maioria da matéria, eu e você somos feitos de férmions), é que bosons são indistinguíveis um em relação um ao outro. Não existe nenhum atributo (como o spin, por exemplo, pois um mesmo fermion pode ter, por exemplo, spin +1/2 e -1/2) para diferenciar dois bósons. 
    Suponha que você tenha dois estados quânticos (A e B) e duas párticulas (1 e 2) que ocupam esses dois estados. Suponha que essas partículas podem ocupar qualquer estado, inclusive o mesmo estado ao mesmo tempo, você terá as seguintes possibilidades: 

A(1, 1) B() - As duas partículas no estado A e nenhuma no B 
A() B(2, 2) - As duas partículas no estado B e nenhuma no A 
A(1) B(2) - Uma em cada 
A(2) B(1) - Uma em cada 

Imagine agora que 1 e 2 são indistinguíveis. Isso significa que: 
A(1) B(2) = A(2) B(1) = A(X)B(X) 

Então temos na verdade 3 estados: 
A(1, 1) B() 
A() B(2, 2) 
A(X)B(X) 

Note que se 1 e 2 são distinguíveis, você tem 50% de chance de encontrar as particular no mesmo estado (4 estados, 2 estados no qual as particulas estão no mesmo estado). Se 1 e 2 são indistinguíveis, voce tem ~67% de chance de encontrar as particulas no mesmo estado (3 estados, 2 no qual as partículas estão no mesmo estado). 

Se você repetir essa brincadeira para mais partículas (3 já dá um trabalho razoável para listar as possibilidades), você vai descobrir que a probabilidade de encontrar as particulas no mesmo estado aumenta com o número de partículas . Luz por exemplo, tem tantos fótons, que a probabilidade é praticamente certa (100%). Esse princípio torna o laser possível mas você sair correndo e atravessar uma parede impossível (melhor dizer improvável). Você é feito de férmions que são distinguíveis um dos outros. A maioria das pessoas tem dificuldade em aceitar que "possível e impossível" é um conceito clássico. Qualquer evento é possível, mas pode ser provável ou improvável. Possível ou impossível são conceitos criados por seres humanos que não existem no mundo físico. 


[3] Bose-Einstein, é só um nome. Porque um físico indiano chamado Bose descobriu a idéia (acidentalmente) e o Einstein ajudou a divulgá-la (ninguém escutou o cara até o Einstein apoiá-lo). 


[4] Massa é uma forma de energia. Lembre-se que E=MC^2. Massa não é a mesma coisa que matéria. Por exemplo, massa aumenta com a velocidade. Próximo da velocidade da luz, um objeto teria massa quase infinita e não "engordaria", a quantidade de matéria continuaria a mesma. Massa é uma propriedade associada com o fenômeno de inércia (uma medida de quão díficil é mudar a velocidade de um objeto, i.e., acelerar, frear... da lei da inércia de Newton). Um fóton é tão material quanto um elétron. A diferença sendo que o fóton não sofre inércia. A idéia fundamental do Campo de Higgs é explicar porque o benedito do fóton não sofre inércia e o electron sofre. 


[5] O modelo padrão fica um pouco mais completo com o Higgs, mas não é um modelo completo da natureza. Falta gravidade por exemplo e mesmo assim tem várias constantes no modelo padrão que foram obtidas puramente através de experimentos e que ninguém sabe calcular teoricamente. 


[6] Nos dias de hoje é possível criar um motor movido a ant-matéria (graças ao Paul Dirac que descobriu a maledeta!). O único problema é que é muito caro. :) O wikipedia diz o seguinte: "$250 million could produce 10 milligrams of positrons". É mais problema de engenharia do que de física. :) 

Mais sobre o Bóson de Higgs: 
http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=what-exactly-is-the-higgs&page=3 

http://www.popsci.com/science/article/2010-11/lhc-researchers-glimpse-primordial-soup-universe-first-time

http://press.web.cern.ch/press/PressReleases/Releases2011/PR25.11E.html 

sábado, 17 de dezembro de 2011

Finais Felizes são Perigosos

Quando assisto filmes em que nos primeiros dez minutos percebo que tudo vai acabar bem, acabo me desmotivando em continuar assistindo. Não porque não goste de finais felizes, mas porque não acredito neles. Também não sou amargurado, mas sim tendencioso a não achar que tudo vai sempre bem, ou que nunca temos (ou deveríamos ter) contratempos. De uns tempos para cá comecei uma auto-análise sobre o que significa termos problemas para resolver, e quando nem sempre o planejado acontece como gostaríamos. Isso tudo envolve a fecilidade, uma utopia perseguida por todo ser humano. A felicidade é um estado momentâneo, normalmente curto e passageiro, e a maior parte da vida é composta de tédio, ou rotina. Por isso talvez a felicidade, ou o estado de estar feliz é tão importante e tão almejado. Seria como o orgasmo, que dura pouco mas é o mais desejado pelos casais. Se a felicidade fosse abundante, perderia sua propriedade de rara e perseguida, e seríamos diferentes, buscando o tédio e a rotina. 

Os filmes que terminam com “e viveram felizes para sempre” me dão uma certa angústia de perceber quanta ilusão foi incutida em quem consumiu aquilo sem fazer uma análise mais profunda. Hoje, após um grande tempo de reclamações da vida, percebo aos poucos que essa mesma vida é composta de todo tipo de sentimento, e saber vivê-los em seu momento certo parece ser o segredo de ser feliz. Perceba que ser feliz não é ter felicidade o tempo todo. Não é chegar “no fim” e perceber que tudo valeu a pena. Na verdade, que fim é esse, se não sabemos quando iremos morrer? Muitos casais se frustram e se separam porque tinham na cabeça o “e viveram felizes para sempre”, mas a vida real é bem diferente disso, e todos os dias temos momentos diferenciados. Quem busca a felicidade normalmente não a encontra, e se decepciona ainda mais. Principalmente as pessoas que buscam a felicidade nas coisas, na posse, inclusive posse de outras pessoas. Essas são as mais infelizes, pois cada vez amargurando-se mais, vão compulsoriamente adquirindo e se esquecendo de usufruir o que tem. 

Não sei se existe uma fórmula mágica de felicidade, como todo livro de auto-ajuda pretende propor, pois para mim a felicidade é algo muito particular, e o que é bom para um pode ser terror para outro. Claro que pode existir uma base humana comum de entendimento do que é ser feliz, como uma esposa ou marido que amamos, ter filhos, caminhar na praia, etc, mas a sua cabeça é a grande produtora da felicidade, cientificamente falando. A irritabilidade vem quando algo não se adequa ao que pensamos ser a fórmula da felicidade, mas encarar aquilo que nos irrita como mais uma emoção, e saber que é para o bem que aquilo está lá, pois de alguma forma valoriza o estado feliz que tivemos ou teremos.

Voltando aos filmes ou livros com finais felizes, percebo não gostar dos filmes em que tudo dá certo. Para mim é necessário que as coisas não sejam tão planejadas assim. Claro que pode calhar de dar tudo certo, mas não necessariamente isso tem que ocorrer para que eu goste da história. A minha necessidade é ver como cada personagem lida com a situação, qual a lição que se aprende com aquilo, e se posso tirar alguma coisa do roteiro. Filmes de romance e livros infanto-juvenis são para mim um elemento não só chato como perigoso, que impõe um padrão “certo” nas coisas, e frusta quem acredita naquilo. 

O povo brasileiro é sempre apontado como um povo feliz, apesar das diversidades do dia a dia. Observe agora nossa cultura, folclore e histórias infantis, que são totalmente avessas a finais felizes. Exemplo: As cantigas infantis sempre acabam em desgraça. É o gato que atirei o pau e o bicho berrou, é o soldado de papél que pegou fogo no quartel, ou a dona aranha que tomou um capote na chuva. É sempre desgraça. O boi da cara preta que vem acabar com a raça de quem tem medo de careta, ou o anel de vidro que se quebra na cirandinha, ou até mesmo o cravo que brigou com a dona rosa. É a menina que viu um cara na rua de terno branco, chapéu de lado, imaginou ele como seu namorado e o camarada entra e dá uma cusparada no chão. Perdeu, playboy. Pelo menos na minha época de infância não salvava uma cantiga que fosse. Era só desgraceira. O folclore nosso também é repleto de coisas ruins, como saci pererê, mula-sem-cabeça, currupira, e uma série de elementos assustadores. Tem até a Cuca, e até hoje tenho medo daquele jacaré de peruca loira. Agora vamos analisar os países desenvolvidos, que mostram as cantigas felizes, a bela adormecida que encontra o príncipe, a branca de neve que ressussita, o bambi, o coelhinho enfim... Tudo dá certo por lá, mas o povo é infeliz e consome tudo que vê pela frente para buscar essa felicidade nas coisas. Índice de suicídio alto, atiradores nas escolas, serial killers, e uma série de perturbados que talvez acharam que a vida era igual aos filmes que assistiram quando crianças. 

A coisa aqui é diferente de lá, e aprendemos desde cedo que contar coisas ruins às crianças não as tornam infelizes, mas pelo contrário, geram um sentimento de querer ser diferente e buscar a lição de não gritar “é o lobo” se não for o lobo. Por isso que para mim é preciso uma alta dose de complicações e nem sempre finais felizes, para darmos o valor à algumas das outras coisas que passaram desapercebidas na vida. Assistir, por exemplo, “Amores Brutos”, do diretor Alejandro González Iñárritu (com história de Guillermo Arriaga) é um bom exemplo que o filme não é sobre gostar do sofrimento, mas olhar para àquilo e entender a expectativa de cada personagem. Um filme lindíssimo quando se vê por essa ótica. Mas é um porre para quem busca a Cinderela. Óbvio que me divirto com filmes de romance em alguns casos, ou uma boa comédia, mas minhas preferências não são essas. Acredito que a felicidade vem me visitar com mais frequência quando não percebo sua chegada.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Developeronomics

Bem vindo ao novo mundo! Desde 29 de outubro de 1969 às 22:30 está no ar a Internet (que se chamva na época ARPANET). Com ela, uma revolução em diversas áreas, desde pesquisas científicas até a própria ficção científica, que ganha realidade. Dentro dessa revolução em andamento surge uma novidade: O investimento em desenvolvedores de software, ou o início da Developeronomics. Esse termo li num artigo da Forbes escrito por Venkatesh Rao, que cita o investimento mais certo que as empresas deveriam fazer, que seria em um capital humano específico: Os desenvolvedores de software. 

Relacionado a esse tema, um outro artigo que li dessa mesma revista, chamado “Now Every Company Is A Software Company” (Agora toda empresa é uma empresa de software), mostra que (como o nome diz) as empresas, independente de serem industriais, são também empresas de software, e negar esse fato complica muito as coisas para a companhia. Pegando o exemplo da Ford, o artigo diz que a preocupação da Ford não é mais fazer carros, mas sim produzir “sofisticados computadores sobre rodas”, com softwares avançados e alta tecnologia embutidas num carro. Essa é a tendência, e não é uma moda passageira. Chegamos a um ponto em que o produto é medido de acordo com a tecnologia inteligente que ele oferece, seja na sua produção ou embutidas no próprio produto. Um outro exemplo é a FedEx, onde a informação do pacote é tão importante quanto o próprio pacote, e esta empresa emprega centenas de desenvolvedores que constroem seus programas para tal fim. Controle, acesso, informação, análise e velocidade são as palavras mais usadas nas empresas hoje, e todas dependem de software. Software, caso não saiba nosso leitor (que seria uma vergonha, mas vai saber né?), pode ser explicada facilmente com a piadinha infame: É a parte que a gente xinga. Hardware é a parte que a gente chuta. Software são os programas, que funcionam nos hardwares, que podem ser computadores, celulares, tablets, geladeiras, etc. 

Eu, como desenvolvedor, fiquei contente em ler a matéria da Forbes, pois tenho emprego garantido por um bom tempo, serei mais valorizado conforme o tempo passa e talvez não serei chamado de peão de luxo, como a maioria vê hoje os desenvolvedores (também chamados de programadores). Vi isso quando recentemente troquei de emprego. Resolvi sair do meu emprego e arrumei outros três em  uma semana. Pude escolher o que achei melhor. Isso prova que o Brasil está caçando profissionais qualificados em desenvolvimento de software, e, fazendo parte do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é agora a bola da vez, ganhando cada vez mais espaço no mercado de software mundial. 

Um amigo até comentou que em pouco tempo os programas serão desenvolvidos por Inteligência Artificial, não sendo mais necessário a alocação do profissional humano, mas acho que isso é muita ficção científica pro meu gosto. Como comentei com ele, imagina um DESC (demente especificador de software comum) especificando algo para que a Inteligência Artificial faça seu trabalho. Normalmente os DESC's não sabem o que querem, logo, teremos que dotar de consciência o computador, para interpretar o que o DESC realmente precisa. Acredito que não seja tão simples como o carro que dirige sozinho do Google, e vai levar um bom tempo que provavelmente não estarei mais por aqui quando acontecer. 

Talvez para quem não está no meio tecnológico não sinta tanto ou talvez não ache que essa movimentação está realmente acontecendo, mas claramente percebemos a revolução, inclusive no Brasil, que carece de mão de obra qualificada. Veja que temos gente desempregada e temos vagas abertas, porém a grande maioria das pessoas não conseguem preencher os requisitos mínimos para as posições que o emprego exige. Isso é triste, e mais triste ainda é não fazer nada, como nosso belíssimo se-faz-de-morto governo e nosso pacato povo brasileiro, que finge que não é com ele (Armless John). Profissões como advogado, médico, engenheiro, arquiteto, e outras seculares estão se adequando ao novo mundo. Hoje um médico dificilmente prescreve algum medicamento sem um exame computadorizado (tirando os pronto-socorros, onde só vão pessoas que estão com virose ou stress), ou um advogado que hoje pesquisa seus casos usando o computador. Enfim, todos precisam dos softwares adequados para seu trabalho, e não saber manejar esse software coloca em risco a realocação desse profissional no mercado de trabalho. O analfabetismo digital é preocupante, e infelizmente não há muita esperança para quem não maneja um software de sua profissão. Incentivo quem quer ser um programador, como no meu teste vocacional elaborado que postei aqui, e ainda acho que essa profissão é um excelente negócio, mas tem que passar no teste, caso contrário, esqueça.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cem

E cheguei ao centésimo post desse meu blog! Quando comecei a escrever nele um dia depois de meu aniversário, em 2008, influenciado pelos amigos de meu antigo trabalho, não imaginava que iria chegar a cem posts. Depois de um tempo coloquei na cabeça que chegaria ao número 100 e não iria escrever mais, pois tenho pouco tempo para isso. Bem, não sei se vou dar um tempo ou parar de vez, mas certamente não tenho muita esperança de dar continuidade aos textos, mesmo porque o público daqui é bem pouco e meu tempo também é bem curto, e blog que não tem atualização frequente morre, eu sei. Venho diminuindo a frequência dos textos porque estou cada vez mais ocupado.

Uma coisa interessante que notei foi os post que achei que dariam um grande número de visitas não foram vistos e os que escrevi por escrever tiveram algumas estatísticas surpreendentes. Em primeiro lugar de visualização desse blog está o texto "Um pouco mais brasileiro", em que escrevi o hino nacional na linguagem de hoje. Me impressionou a quantidade de visualizações. Seguido de perto em número de visitas vem o texto "Uva-passa", em que expressei meu descontentamento sobre essa porcaria. Alguns outros também mantêm um bom número de visualizações, como "Maria-mole", "Superlativos" e "Você tem vocação para ser programador?", que possuem um tom mais cômico que os demais textos. 

Cheguei até a criar uma polêmica quando publiquei minha crítica do livro "Encontro com Rama", e depois me justifiquei no texto "Fast-thinking", mas alguns até me ofenderam nos comentários (que removi), não entendendo que é MINHA opinião do MEU blog, ora pois. 

Apesar do nome "Genuflexo", que insisto não foi a primeira escolha, não tive intenção de criar um blog religioso de alguma forma, porém publiquei sim esses textos, pois publico o que acredito. 

De qualquer forma quero agradecer aos poucos leitores assíduos deste blog e dizer meu muito obrigado pela paciência. Não esperava ganhar nada com isso, nem mesmo algum público, mas quando temos pessoas que se interessam pelo que escrevemos, mesmo que para criticar, é sempre gratificante.