terça-feira, 14 de junho de 2011

O Jogo dos Tronos

Esse artigo não contém spoiler. Terminei o livro "A Guerra dos Tronos", em que mais uma vez odiei o nome "traduzido"em português, pois em inglês é A Game of Thrones, ou O Jogo dos Tronos, o que faria muito mais sentido. Esse livro, narra uma estória de fantasia, contado de uma maneira brilhante pelo americano George R. R. Martin, que até no nome se "parece" (por pura coincidência) com John R. R. Tolkien. A obra de Martin se difere em muito à do O Senhor dos Anéis, embora inegavelmente carrega suas "homenagens", por assim dizer. Tolkien, ao escrever O Senhor dos Anéis, procurou contar uma história realmente fantasiosa, em um mundo fantástico em que criaturas não humanas existiam, onde a magia era tema central, e havia uma delimitação bem clara entre o bem e o mal. Já Martin em A Guerra dos Tronos narra uma estória de fantasia mais "real", se é que isso seja possível de se dizer, e o bem e o mal coexistem dentro de cada um.

Embora contenha dragões, invernos com duração de 10 anos e magia, Martin procura revelar a estória nua e crua, ou a vida como ela é. A narrativa é muito mais pesada que a de Tolkien, e no que se refere a Martin ser "o novo Tolkien americano", discordo. Embora o livro de Martin conta com elementos de O Senhor dos Anéis, e partilha do mesmo tema, o objetivo aqui é outro. Martin se parece mais com um ativista político, narrando os Sete Reinos com cada governante querendo defender o seu lado, e no meio disso tudo alguém com princípios tendo que conviver com toda essa sujeira. O autor se inspirou no Wars of the Roses, guerra que existiu para conquista do trono inglês, entre 1455 e 1485.

Martin não deixa nada subentendido. É sangue, sexo, palavrões e incesto comendo solto. É verdade que ele escreve bem, mas se tudo isso é realmente necessário não cabe a mim julgar. Particularmente, acredito que o autor coloca cada uma dessas coisas na medida certa para apresentar um mundo igual ao nosso, com espadas no lugar de armas químicas (inventadas) ou terroristas. Existem também referências ao governo americano, cujo rei pode inventar suas verdades a qualquer momento, lembrando muito Sadam Hussein e Bin Laden supostamente mortos (e como diria quem lê gibis, sem corpo não há morte, certo?). Cada personagem é contado com detalhes, e existem motivos para seus comportamentos, sendo bem amarrados com a estória em si, diferente de Harry Potter onde o mal é mal porque sim (e aquele Eragorn me parece ser bobo também). Nesse "jogo"dos tronos, a ambição de cada reino é mostrada sem pudor, e talvez isso não agrade alguns, mas a ideia de Martin é um mundo medieval como o mundo medieval era: sujo, lascivo e negro. Com a promessa da casa dos Stark de "o inverno está chegando", o autor vai introduzindo a estória e todos os nomes, reinos e tramas, com a iminência de um inverno rigoroso pela frente e uma possível guerra a caminho (em que o nome em português faz o favor de estragar logo no título).

Também está saindo no Brasil pelo canal HBO a série do primeiro livro, em 10 capítulos de uma hora cada, que narra, embora apressadamente, todo o conteúdo fiel da primeira obra de Martin. O seriado é muito bem feito, acompanhado pelo próprio autor, com orçamento de 60 milhões de dólares só para a primeira temporada. Já foi fechado a segunda temporada, que contará o segundo livro, A Clash of Kings, que colocaram o "belo"nome de A Fúria dos Reis.

Meu descontentamento com títulos "traduzidos" é tamanha que só estou lendo em português porque ganhei. O título em inglês faz muito mais sentido e explico: O nome é parte de um diálogo da rainha Cersei com Edaard Stark, mão do rei, que para mim é um dos diálogos mais interessantes da obra: "Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou morre. Não existe meio-termo."

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Barulho


Não gosto de barulho. Não é qualquer barulho que não gosto. Num show de Rock, eu gosto. Numa festa, eu gosto (até certo horário), numa reunião de amigos, também. Não gosto de um tipo de barulho específico: O que não deveria existir naquele momento. Exemplo: Vizinha arrastando a cama às 2h da manhã, pessoas buzinando no trânsito às 6h, celular tocando no escritório com a música do Chiclete com Banana, etc. Aliás, por que alguém buzina no trânsito? Acaso ele é movido a som? Buzina deveria gastar, e deveria ser cara para repor, assim as pessoas economizariam e somente fariam aquele barulho desagradável se fosse muito necessário.

O barulho, segundo a Wikipédia, causa problemas de audição, hipertensão, doença isquêmica do coração, stress, tristeza e distúrbios do sono (sem contar o desejo psicopático de esfaquear alguém). Teve até um juiz no Colorado, Estados Unidos, que sentenciou as pessoas barulhentas a ouvirem Barry Manilow. Eu preferiria a morte.

Agora, por que alguém faz barulho? E detalhe: Por que alguém faz barulho sozinho? Exemplo: Motoqueiros. Não estou falando só de motoboy que é um caso à parte, mas o camarada que vai e compra aquela desgraça de moto com escapamento de Dragster. Sério? Você é tão sozinho assim que precisa chamar atenção com barulho? Já pensou que ter uma conversa inteligente pode resolver melhor seu problema que montar num dinossauro flatulento? Outra situação: Quando você entra no ônibus ou metrô, cheio, fim de tarde, cansado, e tem um infeliz, filho de primos, que está ouvindo funk no celular sem fone de ouvido. Não dá pra acreditar na cena. O cara ali, sozinho, cara de bobo, se achando o Waldick Soriano do vagão, movendo o pescoço igual àqueles cachorrinhos de gesso de taxista, pensando que tem várias meninas ali loucas para dar pra ele só porque ele gosta do Funk do Pesadão.

Outro caso bizarro, a meu ver. O cara tem um Uno. Se bater em alguém com o carro a pessoa morre de tétano de tanta ferrugem. Ano: 1990. Preço: R$ 5.000,00. Valor do som: R$ 10.000,00. Como pode? Aí ele para no posto de gasolina, compra uma kaiser, abre o porta-malas daquela ximbica e coloca um pagodão, daqueles bem legais de serem ouvidos 1h da manhã de um domingo. Não pode ter nada pior, né? Ah pode. Sempre pode piorar. Biblioteca da faculdade. Um grupo fazendo um escarcéu do seu lado, e você só está ali porque queria silêncio para ler. Eles sabem o que seria uma biblioteca? E reclama pra ver. O barulho triplica, com certeza.

O detalhe que me intriga é que quem faz barulho tem mau gosto. Tirando os que moram do lado de cachoeira, pois falam gritando normalmente, aqueles barulhentos que ouvem “música” ouvem aquelas desgraças de pagode, funk, axé, bundalelê, sertanejo novo, e outros ritmos desagradáveis com letras acéfalas. Por que não colocam Mozart? Ou Beatles? Por que sempre tem que ser a Joelma do Calypso? Ou o bonde do não sei quem? Preconceito musical? Ah, vá se catar! Eu tenho direito de não gostar dessa porcaria, e pode reparar: Os barulhentos são os que tem esse péssimo gosto. Ninguém é barulhento ouvindo Chopin e bebendo Châteauneuf du Pape. É ouvindo Victor & Leo e bebendo chapinha. De preferência direto da garrafa de “prástico” mesmo.

Desagradável também é quem quer falar no celular bem alto, para todo mundo ali saber que ele pegou a Cleudislete no sábado enquanto o marido dela fazia o churrasco na laje. Já atende o telefone do seu lado, berrando na sua orelha, assim: E AÊ MANO? SÓ NA “PAIZ” DO MACACO? Juro que ouvi isso numa segunda-feira, de manhã, indo para o trabalho. E a conversa só piorou dali para frente. Tirando os erros de português que nem dá pra comentar mais, porque é preconceito linguístico, a conversa foi numa baixaria que é inenarrável. E óbvio, no volume máximo, porque o infeliz era pegador e queria deixar isso bem claro para todos os surdos num raio de 10 km.

Suplico a você também, que gosta de tirar fiapo de manga do dente às 7h da manhã no trem: Não faça isso. Compre um fio dental. Resolve melhor e muito mais rápido. E você que gosta de ouvir sua música mequetrefe, compre um fone de ouvido e coloque no máximo se quiser. Só não perturbe os outros.

Tem a cena barulhenta clássica também: A tia que gosta de gritar com a criança, no meio do shopping: “NÃO CORRE, GEISISLANE! QUANDO CHEGAR EM CASA VOCÊ VAI VER! EU VOU TE ARREBENTAR!”. Vai o que? Não ouvi direito. Fala um pouco mais alto aqui no outro ouvido, porque esse a senhora já estragou. Apanhar é bem melhor que ouvir os urros dela, aposto.

Observei uma outra cena um tanto estranha. Um americano que veio provavelmente visitar a empresa aqui no Brasil e um grupo de pessoas que arranhavam um inglês “Falconês” tentando se comunicar com o camarada. Porém aos berros. Do tipo “ÁI LAIQUE DIS RETORANTI! IS GUDI. IU QUEM COMI RIAR ENITAIME.” A pessoa falava e o cara ficava piscando duro, meio assustado com os gritos. O cara era americano, não surdo! Agora nem sei mais se continua ouvindo bem.