sábado, 15 de maio de 2010

Fast-thinking

Filosofando mais um pouco a respeito de Arthur C. Clarke e sua obra, comentei com alguns amigos sobre “Encontro com Rama” que disse não ter gostado em um dos meus posts. Ainda continuo não gostando, porém não tiro o mérito do autor. O estilo de Clarke é do tipo “deixa a vida me levar”, e pouca explicação é proposital por parte dele. Clarke, a meu ver, necessita fazer você pensar sobre o que ele propôs e não significa que você deva pensar necessariamente o que ele pensa. Após "Encontro com Rama" assisti novamente a “2001: Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick + Clarke. Lembro-me de ter gostado parcialmente do filme, e, depois que ouvi algumas opiniões, revi o filme com outro conceito. É inegável que o filme é bom, porém não é um filme normal, covenhamos. Não é um filme como a maioria dos filmes são produzidos, com uma história linear, amarrada e devidamente explicada no final. No filme, o que importa é a sua interpretação para o que é apresentado, e não há uma resposta definitiva, mas um conjunto de imagens que compõem um pensamento do que possa ter acontecido.

O estilo de Clarke, segundo ouvi, não é o de pegar na sua mão e te levar aonde ele quer chegar, mas te indicar um (possível) caminho e você o caminha sozinho. Diferente de Asimov, o qual prefiro, Clarke não impõe um desfecho, mas sugere um princípio. Não deixa de ser muito interessante, e acredito que fui precipitado em escrever o post antes de pensar mais a respeito.

Gosto de conhecer o propósito do autor quando escreveu determinado texto, e um excelente post sobre a falácia intencional pode ser encontrado aqui. Esta mesma falácia intencional acabou me ajudando a entender os motivos de Clarke sobre “Encontro com Rama”. Comecei então a pensar nos motivos que me levaram a não gostar desse livro.

Tratei de analisar o mundo atual, a sociedade em que vivemos e nossas necessidades modernas e como fui influenciado por elas. No mundo apressado, procuramos facilidades. Não estamos querendo pensar, demorar, analisar, ou filosofar. Queremos que acabe logo para consumir o próximo. Interessante isso. Os filmes ficam mais óbvios, os jogos de video game mais curtos, os livros mais finos, e os pensamentos mais guiados. Não consigo pensar no Clarke escrevendo um livro para ganhar dinheiro somente e escrever o próximo na sequência, mas consigo facilmente pensar isso do Dan Brown, que sempre escreve um livro/roteiro de filme. Não que seja ruim, inclusive gostei muito de “O Símbolo Perdido”, mas caminhamos para o "já pronto". Desde comida para microondas até livros. Você já percebeu quantos livros de auto-ajuda existem nas prateleiras das livrarias? Acho que já comentei isso antes, mas a cada vez que entro em alguma livraria me assusta um pouco a enorme pilha de livros querendo te dar algum conselho importantíssimo que vai mudar sua vida. A sociedade hoje está caminhando para uma total submissão das opiniões de quem fez algo importante, sem prestar atenção se aquilo é bom, se é relevante, se faz sentido para si, se contradiz algum princípio, se é verdadeiro, etc. Hoje mesmo estava falando com um amigo sobre os motivos em que as pessoas acreditam em qualquer coisa e desacreditam em uma base de onde aquilo partiu. Como já falei anteriormente, A Bíblia para mim faz sentido, ao contrário da sorte incrível do nada ter criado tudo, e faz sentido a cada vez que a estudo, a cada descoberta da ciência, a cada análise. No livro “Milagres” de C. S. Lewis (autor de Crônicas de Narnia), existe um pensamento sobre o raciocínio lógico que não se sustenta. Muito interessante, mas vejo que poucos se interessam em uma segunda opinião daquilo que tomam como certo. Percebo que hoje, as pessoas se enfurecem quando tocadas com assuntos que desmontam sua linha de raciocínio ou opiniões formadas. Depois do fast-food, estamos tendo o fast-thinking. Não analisamos, só acreditamos. Se não está no Google, não existe. Desdenhamos de tudo que não entendemos.

Vou tentar mudar minhas análises literárias, mas sigo preferindo Asimov.