quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bye, bye, James

Essa semana fui acometido com uma notícia um tanto triste: James Gosling, o pai do Java, está deixando a companhia. Após a compra da Sun pela Oracle, é natural que cabeças rolem, mas fiquei surpreso de saber que a cabeça em questão era o mentor chefe da linguagem em que me sustento nos dias de hoje. Ontem estava estudando um pouco a linguagem e percebi a complexidade em que as coisas se tornaram. A quantidade de frameworks [1] em Java é tanta que é praticamente impossível estudar todas elas. O profissional hoje no máximo trabalha com duas a três frameworks principais, as quais deve conhecer bem, e o resto ele “já ouviu falar” e corre atrás do Google por referências. Nessa abordagem, temos vários problemas envolvidos: Dificuldade de encontrar profissional sênior em determinada framework (que tenha desenvolvido pelo menos cinco projetos inteiros ou três anos de experiência, o que vier primeiro), codificação porca e confusa, arquitetura falha, dificuldade de manutenção, uso inadequado de funcionalidade e por aí vai. Com as linguagens atuais mais fáceis, como Ruby, .NET ou até mesmo o bom e velho PHP, o Java perdeu um pouco de espaço. Hoje, para o profissional, a quantidade de frameworks, ferramentas de desenvolvimento, banco de dados, padrões de projetos em Java é tanta que ninguém mais consegue ficar atualizado. Não dá para discernir sobre o que estudar e o que esquecer.

Algumas vezes comento isso com colegas de trabalho e a resposta que ouço não varia muito. “Vá estudar VB então que é mais fácil.” Ou então “Java não é para qualquer um mesmo”. Hoje em dia o programador Java se comporta como o programador C++ de dez anos atrás.

Einstein mudou a física com sua simplicidade de pensamento, e a equação que todos lembram é E=mc2. Simples. Einstein também tinha uma máxima que dizia “Tudo tem que ser feito de maneira mais simples possível, mas não simplória”. Há um princípio chamado KISS (Keep It Simple and Stupid) que prega a simplicidade nos projetos. Quem cunhou esse termo foi Kelly Johnson, engenheiro do Lockheed Skunk Works (criadores do avião-espião Blackbird). Leonardo Da Vinci dizia que “A simplicidade é a sofisticação definitiva”. Não vejo Java como sendo simples. Não vejo jovens querendo aprender Java. Como em alguns artigos que li recentemente, parece haver uma tendência de premeditar a morte do Java baseado nisso. Será que não é hora de mudar?

Se mantivermos esse modelo lento, estaremos com a morte da linguagem decretada. É preciso inovar, e rápido.
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[1] Frameworks são bibliotecas que proveem funcionalidades genéricas, e que permitem uma customização de acordo com o projeto em questão.


terça-feira, 13 de abril de 2010

O Livro de Eli

Seguindo a tendência dos posts sobre indicações, este aqui fala do filme que assisti nos cinemas recentemente, O Livro de Eli. Passado em um futuro pós-apocalíptico o filme não é uma mesmice que esperava. Pelo contrário, tem um conteúdo plausível e muito intrigante. Existiu uma guerra santa e todos se destruíram. O que restou do mundo é caótico, e a natureza como conhecemos praticamente acabou por conta das bombas que destruíram a camada de ozônio de vez. As pessoas lutam pela sobrevivência e o mais forte manda, voltando para um faroeste característico em uma das poucas vilas existentes no planeta.

Nos primeiros minutos veio à minha cabeça um Mad Max moderno, porém percebe-se que a trama é muito mais profunda que aparenta, deixando Mel Gibson e a Tina Turner chupando dedo. Eli, protagonista vivido por Denzel Washington, carrega um livro (adivinhem qual é) e uma missão de levá-lo para o Oeste, até que ele mesmo, Eli, saiba que chegou ao local escolhido. Nessa missão, um líder comunitário de uma das vilas fica em seu caminho, e toda uma história se desenvolve aí. Se você for assistir a esse filme, preste muita atenção aos detalhes. A cada fala, a cada gesto. É muito interessante as referências que o filme faz a tudo que acontece hoje. A tal guerra que dizimou tudo não é explicada em detalhes, mas nós conseguimos facilmente deduzir o que aconteceu.

Fazendo um paralelo ao filme, hoje pela manhã estava lendo uma matéria na Newsweek dessa semana sobre os abusos sexuais da Igreja Católica. Mais uma vez esse assunto está na moda, só que agora percebo uma certa diferença. Essa diferença é referente à nova religião mundial, a ciência, e a fé cega que acomete as pessoas mais instruídas a acreditarem apenas no que entendem ou podem provar. Antigamente, não entender algo não significava não acreditar na sua existência. Hoje em dia não entender algo significa que esse algo é uma ilusão de nossas mentes, ou algo ainda inexplicado pela ciência. Deus, nesse contexto todo, foi suprimido como uma ignorância das massas, uma tentativa de explicar o que não entendemos ou uma forma de controlar o povo. Não se acredita mais que Deus sequer existe, como demonstrado na Bíblia Sagrada, simplesmente porque não temos provas suficientes, e ninguém viu alguém caminhar sobre as águas que não seja o Criss Angel.

Estamos limitados ao que vemos, sentimos e vivenciamos. Se não se pode provar, é mentira, ilusão ou bobagem. A vida é curta, vamos aproveitar. Carpe diem quam minimum credula postero. [1] Só que a coisa não fica só nisso. As pessoas estão criando um ódio (ou indiferença, o que é pior) pelos que acreditam na Bíblia. Cada vez mais o menosprezo dos crentes da ciência abraçam a ideia que não existe nada de especial na vida, e ridicularizam os crentes em Deus. Tudo é uma grande coincidência ou sorte. A espiritualidade foi deturpada. Ou ela não existe de fato ou existe em tudo que não é Deus. Idolatramos atores e atrizes, esquecemos dos familiares (o próximo). Acreditamos em duendes, bruxas, vampiros-emo, pedras mágicas, videntes, força invisível, I-Ching, ou qualquer outra coisa que não é Deus, e não está na Bíblia. Achamos que as histórias da Bíblia são bobagens, inventadas por velhos tolos com propósitos manipuladores. Só que ninguém quer pesquisar. Ninguém quer ir atrás para saber se o que consta lá pode ter acontecido. Acreditamos em Alexandre, o grande, que possui muito menos referência histórica de sua existência do que Jesus. Só queremos malhar e pegar emprestado opiniões de “sábios” pensadores modernos. Naquela moda que todos são especialistas após uma pesquisa no Google, ficamos mais burros do que antigamente, porém nos julgamos mais sábios que todos porque temos acesso à informação.

Isso é retratado bem claramente no filme. A busca pelo “livro” é a fonte do controle. A guerra santa destruiu tudo, mas queremos o controle através da fé cega. A fé ignorante do acreditar porque sim. Isso sim destrói.

“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Oséias 4:6

Belo trabalho dos irmãos Hughes, que também dirigiram Do Inferno, e ótima história de Gary Whitta, que é jornalista de games, contribuindo Gears of War e quase escreveu o roteiro no novo filme da Blizzard, World of Warcraft, mas saiu do projeto após Sam Raimi ter assumido a direção. Fica aqui a dica.