sexta-feira, 19 de março de 2010

Você!

Todos somos culpados, mas a corrente sempre rompe no seu elo mais fraco. E os demais elos culpam o elo rompido, como se eles mesmos não fizessem parte da mesma corrente. No mundo da informática, no qual me insiro, não existe culpado maior pelos problemas de um sistema do que o programador. Quem trabalha nesse meio sabe que o programador é um peão de fábrica, que trabalha com prazos irreais, e com clientes sempre insatisfeitos. Se alguma coisa não funciona a culpa é sempre do programador.

Será que as pessoas gostam de hipocrisia? Gerentes, arquitetos, coordenadores, clientes, analistas de negócio, vendedores, testadores, todos podem errar, mas a culpa adivinha de quem é? Se tudo dá certo, parabéns aos gerentes, arquitetos, coordenadores, clientes, analistas de negócio, vendedores e testadores. Não temos parabéns para o programador, afinal, não fez mais que a sua obrigação, não é verdade? Não! Não é verdade. O programador trabalha em ambiente insalubre. Normalmente trabalha este com uma máquina muito ultrapassada, com recursos limitadíssimos, com servidores de teste entulhados de problemas, com banco de dados que não tem informação válida sem falar nos prazos para ontem. Por que será que ainda hoje, após anos de programação e métodos de trabalho, após diversos PMIs e metodologias pomposas com gráficos em Power Point, ainda temos que passar por situações em que não é humanamente possível entregar um projeto decente? Não observa isso os gerentes, clientes e quem mais define liderança em uma empresa? Será que é mais bonito entregar primeiro e correr atrás do erro depois? Claro que a pergunta é retórica. Primeiro vende-se o produto. Depois alguém vai ver se dá pra fazer o prometido. E se não der? Ah, aí culpa-se alguém, né?

No mundo capitalista, vivemos uma situação em que o dinheiro vem em primeiro plano. O que gera renda imediata, a curto prazo, é o principal da situação. Não se tem planejamento se este impeça a venda de alguma coisa naquele momento. Até isso acontecer, é uma consequência do capitalismo. O que não deveria acontecer é um bando de hipócritas querendo jogar a culpa nas pessoas que realmente produziram o software.

As ferramentas de programação e linguagens estão ficando mais amigáveis. Com interfaces mais simples, como o Code Bubbles para Java (veja o vídeo), e o Spring Framework, que facilitam muito tarefas comuns em todos os projetos, isso tudo para agilizar o desenvolvimento e a entrega do produto. É algo como “se não podemos vencê-los juntemo-nos a eles”. A comunidade se esforça para tornar a parte de codificação mais rápida. Apesar da resistência das empresas adotarem as ferramentas e frameworks mais novas, ainda existe uma luz no fim do túnel, e um dia teremos ferramentas modernas o suficiente em que o desenvolvimento em si se torne apenas uma montagem de regras de negócio específicas de cada projeto, e a codificação seja implícita, ou pelo menos bem menor. Aí, talvez teremos um outro culpado: O Analista de Negócio. A culpa é minha e coloco ela em quem eu quiser.

domingo, 7 de março de 2010

Moon

Sam Bell e Gerty. Dois companheiros a bordo da estação espacial na lua extraindo um gás chamado Helium 3, que é a resposta para o problema de energia da Terra. A empresa Lunar fez um contrato de três anos com Sam, e Gerty não precisa voltar, pois é um computador. Esse enredo pode parecer batido, mas o que acontece nesse filme de Duncan Jones é surpreendente. O filme não trata de explosões, tiros e sexo, portanto se você é um fã de filmes de ação (e gosta de Big Brother) esqueça. O filme é para pensar. Assim como 2001 uma Odisséia no Espaço, algumas coisas não são ditas, mas facilmente interpretadas. O filme é filosófico, e nos mostra mais uma vez um futuro possível. No que as pessoas estão se tornando. No que as empresas controladas por pessoas estão parecendo. O filme é excelente, do meu ponto de vista. Sei que a maioria prefere não pensar. Prefere sentar no sofá e reclamar que amanhã é segunda-feira. Preferem não fazer nada. Eu também sou assim, e isso me chateia, mas pelo menos gosto de filmes alternativos.

O diretor Duncan Jones (que é diretor, roteirista e também filho de David Bowie) propõe além da exploração do gás lunar também uma exploração pessoal. Nos limites do ser humano, isolado em uma estação espacial com sua esposa e filha na Terra esperando por sua volta, Sam é tomados pelos efeitos do confinamento. A comunicação dentro da base é feita por gravações refletidas em Júpiter, já que a antena principal está destruída, completando assim a solidão. Não dá para não perceber a semelhança de Gerty, o computador da estação, com HAL 9000, só que Gerty é mais gente boa, dublado por Kevin Spacey. Sam, que tem seu contrato vencendo em duas semanas, após três anos de isolamento, começa a ter alucinações e é aí que a coisa toda começa a ficar interessante.

Para quem gosta de ficção científica, esse filme é essencial. De baixo orçamento, acabou saindo direto para DVD no Brasil, porém não demonstra ter custado somente 5 milhões de dólares. Os efeitos e tomadas externas são de primeira, embora a maioria das tomadas acontece dentro da base lunar Sarang, que “por acaso” significa “amor” em coreano.

Recomendo.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Encontro com Rama

Interessante como as opiniões divergem mesmo dentro de um mesmo assunto de agrado de duas pessoas. Terminei ontem de ler “Rendezvous with Rama” (Encontro com Rama) de Arthur C. Clarke. Já vou te adiantar que se pretende ler esse livro um dia é melhor parar por aqui, porque vou falar algumas coisas que talvez estraguem (spoiler) seu prazer em lê-lo.

Encontro com Rama trata de um futuro não tão distante, em 2130, em que os astrônomos (americanos, é claro) detectam um enorme asteróide na órbita de Júpiter com velocidade de 100.000 km/h que desperta a atenção desses cientistas por muitos fatores que não vem ao caso agora. Então, mandam uma nave tripulada (após uma sonda) para avaliar o objeto, que a princípio foi identificado como uma super nave extraterrestre. Já imaginei o Bruce Willis no meio da coisa tentando plantar uma bomba atômica no núcleo e tal, mas pelo menos a história não foi para esse lado.

O problema todo é que o livro não foi pra lado nenhum. Nada acontece. Me senti lendo o roteiro de Lost. Acontece tudo mas não explica nada. As dúvidas que tinha no primeiro capítulo continuei tendo depois da última página. Após terminar o livro, vi que ele foi finalizado com uma frase de efeito, que poderia gerar muitos significados e interpretações. Fui correndo na Wikipedia procurar por seu significado. Descobri que o velho Clarke só quis terminar o livro “in a good way”, ou seja, de uma maneira bacana. Bacana pra ele, claro. A única coisa que pensei significar algo na verdade não significa nada. Se você gostou do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço (também dele) provavelmente vai gostar de Encontro com Rama. Eu achei médio. Tem seu mérito, é um clássico, ganhou muitos prêmios, tem sua filosofia, sua futurologia bem amarrada, mas não chega perto de um conto ruim do Isaac Asimov. Suas continuações também não explicam muita coisa (já me informei) e o pior: Ele não escreveu as três continuações, dando-as para um autor chamado Gentry Lee, que era chefe de engenharia do laboratório de propulsão a Jato e também (mau) escritor.

A opinião divergente que citei acima foi porque um amigo meu do trabalho me recomendou muito esse livro, e gostamos de ficção científica, mas nesse caso discordo totalmente da opinião dele. Interessante que neste livro verfiquei alguns nomes latinos presentes na tripulação da Endeavour, nave que vai ao encontro de Rama. Nomes como Perera e até um Boris Rodrigo estão presentes na obra. Inclusive o Rodrigo é um “cristão” devoto da Quinta Igreja do Cristo Cosmonauta. Essa religião acreditava que “Jesus Cristo era um visitante do espaço e uma teologia inteira foi construída com essa suposição”.

Valeu Clarke por ter proposto a comunicação por satélite e ter descoberto a órbita estacionária deles, mas em Rendezvous with Rama eu boiei.