quarta-feira, 16 de junho de 2010

Bom Gosto

Estava lendo um artigo na revista Filosofia da editora Escala chamado “O Gosto dos Outros”, de Flávio Paranhos, o qual ele cita um filme que gosto muito chamado Sideways, e fala do bom gosto. Não só o bom gosto mas a mudança de gosto com a mudança de contexto. Logo me lembro de ter ficado horrorizado com um colega de trabalho ter comentado que não gostou do filme “O Livro de Eli”. Gosto é gosto, claro. Mas como pode não ter gostado desse filme? É aí que comecei a pensar no assunto. Nesse artigo da revista, Paranhos pergunta: “O que é o gosto? É possível gostar de algo ‘objetivamente’?”. Daí uma dúvida quanto à importância de uma crítica literária, de cinema, de vinho, etc. O que vale nesse aspecto é o gosto do cidadão e o que aquilo o remeteu no íntimo. E esse gosto muda, de acordo com o contexto. Um exemplo disso é pegar algum material ruim de seu autor preferido e lê-lo sem saber de quem se trata. Provavelmente você achará ruim, mas se souber que se trata do seu autor preferido, certamente olhará com outros olhos e sua crítica muda a partir daí. Gostei do filme “Cloverfield” porque é do J. J. Abrams, o qual gosto, mas pode ser que se o assistisse não sabendo disso acharia uma cópia barata de “A Bruxa de Blair”, por usar a mesma fórmula. Concordo com o artigo da revista que diz que somos todos arbitrários em nossas condenações e exaltações.

O problema disso tudo é a arrogância. Não gosto de Machado de Assis, embora seja leitor. Quando comento isso (que, aliás, evito), os que lêem clássicos me olham com total e mais absoluto desprezo. Como se fosse uma heresia monstro falar uma coisas dessas. Claro, para ele é, para mim não. Lembro-me de um amigo que toda vez que nos encontramos comenta do filme “O Cheiro do Ralo”, o qual, inocentemente, lhe recomendei e dei motivos para uma eterna brincadeira que sempre é feita quando digo que algo é bom. Ele odiou o filme, e eu gostei muito, e poderia dar uma centena de argumentos e não mudaria sua perspectiva ou opinião. “É ruim e ponto”, ele me disse. Por que será que gostei então? Fazemos parte de um grupo de amigos com mais ou menos a mesma estrutura cultural. Isso me fez pensar ainda mais no por quê de ter gostado daquele filme. Realmente é um filme diferente. Talvez por isso mesmo, por não esperar um final feliz ou uma obviedade que me fez gostar. Um outro amigo só gosta de filmes que tenham final feliz. Tem que dar tudo certo para ser bom. Eu já penso diferente. Se der tudo exatamente como planejado, qual o sentido de ficar até o fim assistindo? Se já sei como termina, para que perder todo esse tempo? Não que isso seja regra, pois gostei muito de “O Senhor dos Anéis”, mas foi por outros motivos e não especificamente o final.

E também pensei em outra coisa: Vale a pena ler uma crítica de um filme antes de assisti-lo? Você deixaria de comprar um jogo de vídeo game após as críticas ruins? Muitas pessoas, incluindo eu, são influenciadas pelo gosto dos outros. A crítica nada mais é que uma tentativa de racionalizar um gosto subjetivo. E assim como Paranhos descreve no artigo “Primeiro gostamos, depois racionalizamos. Primeiro subjetivamos, depois objetivamos. Primeiro inconscientes, depois conscientes.”. Só sei de uma coisa: Evito ao máximo indicar alguma coisa. Se o faço é porque alguém me pergunta diretamente. Não temos capacidade de entender o tipo de gosto de cada um e acertar todas as vezes. Chegamos perto, mas as vezes que erramos escutamos eternamente.

Um comentário:

Garcia Filho disse...

Eu gostei deste post. :D