segunda-feira, 7 de julho de 2008

Batman falhou?


Qual o limite da realidade da mente humana? Qual é a fronteira que limita o racional da fantasia? Estava pensando sobre esse limite. Conversando com um amigo meu, discutíamos sobre o novo filme do Batman que está para estrear nos cinemas: O Cavaleiro das Trevas. Nesse filme um importante vilão do morcegão tem atenção central: O Coringa. Esse vilão nos gibis faz um papel de demente e suas ações são tão tresloucadas quanto seu figurino. O Coringa foi tema de importantes histórias do Batman, inclusive uma que talvez seja a mais famosa, A Piada Mortal, contada pelo melhor roteirista de quadrinhos ainda vivo chamado Alan Moore na opinião de muitos (o melhor roteirista de quadrinhos já falecido é também Alan Moore na opinião de muitos).


Alan Moore é uma lenda viva dos quadrinhos, que consegue colocar coisas banais em um clima totalmente novo e inesperado, onde histórias do Monstro do Pântano, por exemplo, ganham uma profundidade jamais vista com outro roteirista. Nessa história da Piada Mortal o Coringa aleija a filha do comissário Gordon, Bárbara Gordon, com um tiro em sua espinha. Após esse ato ele a fotografa nua na poça de sangue e sequestra seu pai (comissário Gordon) o torturando em um parque de diversões e exposto às fotos de sua filha nua. O Coringa tenta assim provar sua teoria em que qualquer um exposto à tamanha atrocidade poderia se tornar um demente como ele. Nessa história é contada a origem detalhada do vilão, e os motivos que o levaram a ser o que é: Após uma tragédia de sua família, com a morte de sua esposa grávida de num acidente doméstico, é obrigado a participar de um crime que sai pela culatra com a intervenção do Batman e assim molda seu destino para sempre. O gibi é genial, mas perturbador. Confesso que após lê-lo, fiquei chocado e por algumas noites sonhei com a história. Imagine agora interpretar um papel em que você teria que viver o Coringa. Encarnar no personagem para que sua atuação fique real.


Para esse papel foi escolhido o excelente ator Heath Ledger, que acabou falecendo logo após as filmagens; Segundo esse meu amigo quem matou Heath Ledger foi o próprio Coringa. O motivo seria porque o ator não conseguiu se desligar da interpretação do personagem, levando o tormento de seu papel para a vida real, em que Ledger e Coringa se misturavam, obrigando o ator a tomar comprimidos para dormir. Isso pode ter bagunçado o limite de realidade de Ledger, fazendo com que ele incorporasse esse papel de mente perturbada na vida real. Existe até um exemplo disso aqui no Brasil com o caso do Guilherme de Pádua, que questionava exatamente esse limite.


Outra história perturbadora é uma do Batman chamada Arkham Asylum, do autor Grant Morrinson e arte de Dave McKean. Também complexo, esse gibi apresenta o Coringa de dentro do manicômio de Gothan City. A história é chamado aqui no Brasil de Asilo Arkham mas acredito que seja outro problema de tradução, já que Asylum é mais conhecido como hospício em inglês e asilo de velhos é mais conhecido como residential care ou homing. Nessa história, Batman entra no hospício para tentar deter o Coringa, e é apresentado às loucuras de lá. Os desenhos de McKean perturbam. O que esse artista pode fazer quando representa em página dupla as loucuras desse ambiente é magnífica. Como leitor também fiquei impressionado, tanto quanto a piada mortal. Imagino então o ator, tendo que interpretar tudo isso como sendo realidade para a cena. Não é difícil perceber que isso poderia acarretar a qualquer um que não pudesse se desligar, que não tivesse uma chave na hora do “corta!” do diretor. Não é difícil perceber que a relação da morte de Ledger com seu papel é tênue. Mais uma vez o Coringa pode ter feito sua vítima, e dessa vez Batman não conseguiu impedir.

3 comentários:

Cristiano Silva disse...

Na realidade, esta possibilidade foi levantada no programa Metrópolis da TV Cultura, quando o programa fez uma reportagem sobre este novo filme do Batman, e comentou que o ator, pouco antes de morrer, havia dito a amigos que tinha ficado um pouco perturbado com a atuação, e estava tomando remédios para dormir, pois estava dormindo apenas 2 horas por noite.

Nem imagino como deve ser o trabalho de um ator ou atriz, para aprender a separar a realidade da ficção ao "mergulhar" em um personagem. De qualquer forma, vamos ver se o Ledger merece uma indicação ou não de Oscar póstumo.

Garcia Filho disse...

Li recentemente uma entrevista com o diretor Christopher Nolan, onde ela afirma não acreditar que o Coringa tenha sido a causa do suicídio de Heath Ledger. Na entrevista o diretor afirma que ele estava sempre tranqüilo durante as gravações e falava muito de sua filha. Claro que isso não exclui a possibilidade de que o Coringa tenha afetado mais o ator que o diretor o faz crer, mas se enveredarmos muito por este caminho vou acabar com medo do Anthony Hopkins. :D

Anônimo disse...

Tenho a mesma opinião do Garcia Filho,apesar do personagem em questão ser forte,é apenas um personagem,e um ator tem uma personalidade muito mais forte e real,se não pobres coitados...