sexta-feira, 13 de junho de 2008

Detalhes tão pequenos...


Eu me interesso por detalhes. Mas normalmente só os detalhes que me interessam. Não quero ouvir uma conversa longa sobre um dia no cabeleireiro, ou um passeio no supermercado, ou o final da novela, mas me interesso por detalhes de coisas que me interessam, lógico. Acho que acontece com você também. Conversa com muito detalhe vai ficando chata, monótona e se torna um monólogo, pois só uma pessoa fala e a outra torce. Torce pra acabar logo.

Me lembro que um dia minha avó foi ao médico e minha mãe foi levá-la. Cheguei em casa querendo saber o que tinha dado, o que o médico tinha falado e tal. Aí perguntei à minha mãe e ela começou o relato: “Então, saí daqui eram 8h34...” Já interrompi de cara dizendo: “Mãe, vamos para os gols. Não quero saber do jogo todo...”. E ela: “Calma, deixa eu contar...” Aí, eu sentei, respirei fundo e tentei matar minha curiosidade com contrações estomacais fortes até a conversa ser desenrolada como numa novela de Manoel Carlos, cheia de detalhes completamente irrelevantes para o caso (nossa, acabei de me lembrar de um amigo meu aqui do trabalho...). Bem, ouvi que ela teve dificuldade de estacionar, que um rapaz a ajudou a colocar o carro na vaga, por sinal um rapaz muito bom, novinho, com cabelo castanho, que estava parado lá na frente de bobeira, parecido com o fulano de tal... E por aí foi. Bem, chegamos à conversa com o médico. Aí me animei, sentei direito no sofá e disse pra mim mesmo: “Sim, é agora!”. Aí começou: “O consultório era limpinho, sabe? Tudo novinho... Uma recepcionista linda, parecia a Priscilla. Aí, o médico nos atendeu. Precisa ver... Ele era novo, bonitão assim, sabe? De bigode... Parecia o tio...” Ai, ai... Já me afundei de novo no sofá e só na cacetada pra cima da curiosidade de novo, que dessa vez revidava aos prantos dentro do meu estômago já incandescente. Depois de uma meia hora de conversa veio a informação que minha avó não tinha nada. Graças a Deus, pensei mas poderia ter me falado tudo isso em... deixa eu ver... 4 segundos! "Ai, você é muito chato, Rodrigo".

Bom, tudo isso posto para relatar que estou lendo o médico e o monstro. Sim, não tem muita coisa a ver com minha avó ter ido no médico, mas o fato é que procurei saber mais detalhes no livro “The Strange case of Dr. Jekyll and Mr.Hyde”. Detalhe esse que me interessa, já que a maioria nunca ouviu falar em Robert Louis Stevenson. Confesso que não lembrava o nome do autor também. Bem, resumindo, resolvi procurar a respeito desse livro depois de inúmeras referências em outras obras, tanto literárias como nos filmes, onde posso citar ao menos dois: A Liga Extraordinária (que Alan Moore me perdôe) e Van Helsing. Além do gibi já citado A Liga Extraordinária, de Alan Moore, que nada tem a ver com o podre filme, pois é um excelente gibi.

O que Hollywood pinta do monstro não tem muito a ver com o livro, já que o senhor Hyde é feio, um tanto deformado, mas nada de ter 4 metros de altura, meio homem meio Hulk, e ser completamente animal. Ele é uma pessoa pequena e muito estranha, chegando a dar repulsa nas pessoas que o odeiam nos primeiros segundos de contato. O livro é um relado do advogato Utterson em busca de saber quem é este enigmático Mr. Hyde e o motivo do renomado médico Dr. Jekyll ter deixado sua fortuna de herança para ele. Muito bem escrito, mas ainda não terminei de ler. Estou lendo-o junto com mais alguns outros. Tenho esse hábito estranho de ler vários livros ao mesmo tempo. Apesar de já ter tentado ler um de cada vez, parece que alguma coisa me atrai para ler um livro novo, ali parado me olhando... Ops! Desculpe se pareceu com os relatos da minha mãe... Vou finalizar já, espera, deixa eu contar...

Então, o fato é que acho interessante ler as obras originais ao invés de se basear nas referências dessa obra, que por muitas vezes deturpam a imagem que se tem dos personagens ou do sentido do livro em questão, como foi no caso da fisionomia e bestialidade do Mr. Hyde. Isso gera superficialidade no assunto e muitas confusões mentais. Recomendo aqui mais esse livro. E vamos para os gols! Ah, não... vamos esquecer o futebol por alguns dias...

2 comentários:

Garcia Filho disse...

Gostei do texto, seu melhor texto em um bom tempo. Só espero não ser o amigo que fala como sua mãe de quem você se lembrou. :D

Unknown disse...

Caramba, achei que sua vó tivesse sido atendida pelo Dr. Jeckill...